O grupo Latam, dono das empresas aéreas TAM e LAN, vai devolver 20 aviões em 2016 e postergar o cronograma de recebimento de novas aeronaves até 2018. A decisão foi tomada para adequar a frota da empresa a um cenário econômico de demanda mais fraca por passagens aéreas e para preservar o caixa da companhia. Além do grupo da TAM, as concorrentes Gol e Azul também estão reduzindo seus planos de frota.
Tipicamente, quando a demanda por passagens esfria, as companhias aéreas cancelam os voos menos rentáveis reduzindo a hora voada por avião. A redução de frota é uma medida mais drástica para cortar a oferta, o que indica que a crise veio para ficar, e deve se prolongar no médio e longo prazo.
A Latam, que encerrou o terceiro trimestre com 328 aviões na frota, já vendeu cinco aeronaves entre julho e setembro e deverá chegar ao fim do ano com duas unidades a menos. A empresa não divulgou quantos aviões deixará de receber nem o impacto no Brasil, mas prevê reduzir em 40% os investimentos feitos na expansão da frota entre 2016 e 2018, uma economia estimada em US$ 3 bilhões. “É uma redução importante de investimento que preservará o caixa da empresa”, disse Claudia Sender, presidente da TAM.
Além de aumentar a liquidez, a redução de frota faz parte de um processo de corte da oferta de passagens aéreas que já está em curso. A TAM vem enxugando a oferta nos voos nacionais desde 2012. No quarto trimestre deste ano, fará um corte adicional de 8% a 10% na malha nacional. A empresa também vai cancelar voos internacionais em 2016. Ela deixará de operar 4 dos 14 voos semanais de São Paulo para Nova York e três voos de Belo Horizonte e um de Manaus com destino a Miami.
“Nós fazemos parte de um grupo que opera em vários países latinos e podemos remanejar a nossa malha para mercados com demanda mais forte. Mas diversos países da América Latina, como o Brasil, a Colômbia e o Chile, estão com suas economias em desaceleração, o que exige a nossa revisão de frota”, disse Claudia.
Ela lembrou que as companhias aéreas costumam encomendar aviões com antecedência de cinco a dez anos. No momento em que TAM e LAN fizeram os pedidos das aeronaves da Boeing e Airbus que vão chegar a partir do ano que vem, a expectativa era de que economia dos países latinos crescesse por dois dígitos por muitos anos. “Mas esse cenário não se concretizou e hoje há excesso de oferta de voos comerciais”, concluiu.
Movimento geral. Além da TAM, Gol e Azul também vão ajustar a frota. A Gol anunciou anteontem que vai receber apenas 4 dos 15 aviões da Boeing com entrega prevista para 2016 e 2017. A empresa também vai “alugar” 12 aviões para empresas europeias no ano que vem.
A Azul devolveu este ano 14 turboélices ATR e cinco jatos da Embraer 175, que eram da Trip, empresa comprada por ela em 2012. Em entrevista ao Estado há cerca de 15 dias, o presidente da Azul, Antonoaldo Neves, disse que a empresa poderá devolver às empresas de leasing até 15 jatos da Embraer em 2016. A Azul tinha capacidade para ampliar em 15% o volume de passagens à venda pela empresa no fim deste ano, mas, com a demanda em baixa, o avanço da oferta será de apenas 3,8%. “Nossos jatos poderiam voar 12 ou 13 horas por dia, mas voam 10 horas. Não é eficiente. Então, podemos nos desfazer de aeronaves”, disse Neves. Para 2016, a previsão da Azul é entre corte de oferta de 3% e uma módica expansão de 1%.
Acerto. Para os analistas, a redução de voos no Brasil é acertada. “Se havia dúvida sobre o efeito adverso do excesso de capacidade, ela foi removida quando as empresas divulgaram seus resultados financeiros. Todas mostraram altos índices de endividamento e rentabilidade comprimida”, escreveram os analistas do Morgan Stanley em relatório de quinta-feira.
A retirada dos voos visa a criar condições para as empresas elevarem os preços da passagem aérea e recuperarem sua rentabilidade. A Latam divulgou ontem um prejuízo líquido de US$ 113 milhões no terceiro trimestre, enquanto a Gol perdeu mais de R$ 2 bilhões, ambos resultados afetados negativamente pela valorização do dólar sobre o real. “As empresas aéreas devem focar em cortar oferta de assentos, custos e elevar o preço das tarifas”, disse o analista do BB Investimentos, Mário Bernardes Junior. “Não há mais espaço para a redução de preços nas passagens aéreas. A proteção de margens deve ser a regra daqui para frente.”