Os Estados Unidos e a União Europeia congelaram nesta segunda-feira, 28, os ativos do Banco Central e do Fundo Soberano da Rússia no exterior, para impedir que o presidente Vladimir Putin use esse recurso para escapar de sanções econômicas em virtude da invasão da Ucrânia. A medida, segundo economistas, tem o potencial de estrangular a economia russa.
O congelamento de ativos se segue à exclusão de bancos russos do sistema de pagamentos global Swift e do congelamento de bens dos principais membros da oligarquia russa. No fim de semana, os efeitos na economia real do país já eram visíveis, com uma corrida a caixas eletrônicos por dinheiro em espécie e o aumento expressivo de bens importados, como eletrônicos e alguns tipos de alimentos.
No mercado financeiro, o impacto também foi grave. O rublo desabou e o país decretou feriado bancário por dois dias para evitar uma corrida aos bancos. A taxa de juros subiu de 9.5% para 20% ao ano, numa tentativa da autoridade monetária de evitar a venda de rublos por moeda forte no país. O rublo caiu 30% ontem, cotado a menos de um centavo de dólar.
As sanções tem como principal objetivo impedir que a Rússia acesse seus mais de US$ 600 bilhões em reservas em moeda forte, grande parte deles em bancos ocidentais. Com esses ativos congelados, o plano de Putin de resistir às sanções com o acúmulo de reservas e impedir a desvalorização cambial pode fracassar. A medida foi tomada com caráter imediato para impedir que os russos movessem esses ativos para bancos chineses ou de outros aliados.
As sanções são inéditas contra um país do tamanho da Rússia e podem ter um impacto bastante negativo sobretudo sobre o rublo, a instável moeda local. O BC russo teve de avisar a população que correu em massa para saques que havia papel moeda suficiente para as retiradas. "Todos os recursos em conta dos clientes estão preservados e disponíveis para transações", disse a instituição.
Com a desvalorização do rublo, os russos estão perdendo poder de compra. Dada a magnitude das sanções, isso pode ocorrer em velocidade recorde. "Se as pessoas acreditam numa moeda, ela existe. Se não, ela vira fumaça", diz Michael Bernstam, economista da Universidade de Stanford.
Ainda de acordo com economistas, a retirada de bancos russos do Swift chamou mais atenção do público, mas as sanções de ontem são mais devastadoras para a economia russa. "É uma medida chocante e avassaladora", disse Adam Tooze, da Universidade de Columbia.
O impacto das sanções é significativo por causa da natureza do sistema econômico global: a maior parte dos ativos russos está em bancos ocidentais e não em Moscou. Num país como a Rússia, onde a moeda local não é estável, converter seus ativos para euro e o dólar é essencial. Sem isso, há perda de confiança no sistema.
<b>Sem neutralidade</b>
Em uma medida inédita, a Suíça abdicou de sua política de neutralidade e congelou os ativos da Rússia e também de uma série de líderes russos, como Putin, o premiê Mikhail Mishustin e o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, com efeito imediato. As sanções serão implementadas em coordenação com a UE, com o congelamento de ativos e o veto a novos negócios com os alvos.
O país ainda informou que suspendeu em parte um acordo de 2009 para facilitar vistos a cidadãos da Rússia. Além disso, fechará o espaço aéreo para aeronaves russas a partir desta segunda-feira.
<b>Cerco privado</b>
Empresas privadas se juntaram aos governos no isolamento da Rússia. Facebook, Google e YouTube anunciaram planos para impedir que os meios de comunicação estatais russos monetizem suas plataformas.
A gigante do petróleo Shell disse ontem que planeja se desfazer de suas parcerias com a gigante russa de gás Gazprom, tornando-se a terceira grande empresa de petróleo a anunciar tal medida.
A FedEx e a UPS anunciaram que estavam interrompendo as entregas para a Rússia e a Ucrânia, e os EUA e governos estrangeiros se mobilizaram para bloquear grande parte do sistema bancário russo dos principais mercados internacionais.
O setor de gás e petróleo russo, no entanto, segue livre de sanções, já que a Europa, em particular a Itália e a Alemanha, dependem fortemente do gás russo, principalmente no inverno. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>