Para convencer líderes partidários a fazer o último esforço do ano para votar a reforma da Previdência, a equipe econômica usou como argumento a perspectiva de consolidação do crescimento econômico a partir de junho de 2018, justamente no período eleitoral. No jantar promovido no domingo, 3, pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), parlamentares ouviram que, se a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) não for aprovada, o cenário para o próximo ano será de “aperto” e os governistas não terão o que mostrar no palanque porque não haverá recursos para investimentos.
Líderes partidários saíram do encontro convictos de que, se não houver um sinal positivo para o mercado sobre o andamento das reformas, todo esforço de ajuste do governo estará perdido. A equipe econômica fez projeções e mostrou os efeitos negativos para o País se a reforma não avançar, o que inclui rebaixamento de nota das agências de classificação de risco e falta de investimentos.
“O mercado tem reagido positivamente à agenda de reformas e os efeitos são paulatinos, mas isso tem um prazo para isso se consolidar. A ruptura disso, ou seja, não votar, no mercado, o efeito é imediato”, resumiu o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Os governistas fizeram um pacto de não divulgar mais o número exato de votos favoráveis para aprovação da PEC, mas o líder governista admitiu que ainda não há sequer 205 dos 308 apoios necessários para aprovar a proposta em dois turnos. “Não tem como mudar (voto) do dia para a noite. Não é mágica, é uma construção que tem que se fazer”, afirmou o parlamentar. A mobilização será feita até a próxima quinta-feira, 7, e, se houver votos, a votação do primeiro turno ficará para a semana seguinte.
Segundo Ribeiro, a reunião do domingo ajudou a quebrar a resistência dos líderes partidários a empreender um último esforço para aprovar a reforma este ano. Ainda de acordo com Ribeiro, a comunicação com a sociedade, em especial o discurso junto a classe média, também ajudou a melhorar o ânimo entre a base aliada. Por isso, líderes e presidentes dos partidos demonstraram disposição para buscar votos. “Se aprovada a Previdência, se consolida o cenário econômico e isso possibilita que se retome o investimento em grandes obras, melhora na relação municipal. Em não acontecendo (a reforma), o cenário é de aperto”, enfatizou.
A conversa na residência oficial da Câmara reuniu 10 ministros, vários senadores, deputados e presidentes dos partidos aliados. Ribeiro disse que o governo não fez oferta de cargos aos líderes partidários, mas deixou claro que a perspectiva econômica será ruim em ano eleitoral. “A gente quer o emprego, o efeito na ponta (durante a campanha eleitoral). O cenário será efetivo, é isso que a gente espera”, destacou Ribeiro.
Clima
A oposição afirma que não há clima para votar a reforma nos próximos dias. As matérias econômicas na pauta da Câmara estão sendo usadas como termômetro dos votos que o governo teria na votação da reforma previdenciária.
Na semana passada, por exemplo, durante a votação da Medida Provisória 795, que trata da extensão do regime fiscal aduaneiro Repetro, o governo conseguiu aprovar o texto-base com apenas 208 votos favoráveis e 184 contrários. “O governo tem tido dificuldade para aprovar até MP. Tem que fazer acordo para tudo. Se a gente (oposição) bater o pé e fizer obstrução, acabou, não vota nada”, afirmou o líder do PSB, Júlio Delgado (MG).
O deputado mineiro diz que a mudança de ânimo entre os governistas é um jogo de cena, para passar um sinal positivo para os investidores. “Eles tentam vender um otimismo para poder segurar o mercado porque viram que a bolsa caiu a semana passada inteira. Falar que vão votar é só para dar sinal para o mercado. Não tem clima para votar”, avaliou Delgado.