Estadão

Para Powell, contratações em nível forte em si não impediriam corte nos juros nos EUA

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, disse nesta quarta-feira, 20, que contratações em nível elevado não impediriam a autoridade monetária de cortar os juros no país. De acordo com ele, os EUA vivenciaram contratações muito fortes e a inflação caindo rapidamente no ano passado.

"O forte crescimento do emprego não é motivo para nos preocuparmos com a inflação", disse Powell, a jornalistas.

Ele reforçou que a inflação nos EUA teve uma melhora significativa no ano passado, mas surpreendeu nos meses de janeiro e fevereiro. Mas, segundo o dirigente, é preciso cautela para não descartar as partes dos dados que não agradam. Ele avaliou ainda que as condições financeiras mais apertadas têm pesado na economia.

"É normal ver a inflação um pouco mais alta no primeiro semestre do ano", disse Powell, acrescentando que o caminho de volta à meta de 2% ao ano, às vezes, é "acidentado".

"Tivemos dois meses de uma inflação instável. Estávamos dizendo que seria uma jornada acidentada. É por isso que estamos abordando esta questão com cuidado", acrescentou o dirigente.

<b>Mercado de trabalho em boa forma </b>

O presidente do Federal Reserve avaliou que o mercado de trabalho nos Estados Unidos está "em boa forma". De acordo com ele, o BC dos EUA monitora o segmento "com muito cuidado", mas não enxerga "fissuras" atualmente.

"O quadro geral é realmente um mercado de trabalho forte, os desequilíbrios extremos que vimos nas primeiras partes da pandemia têm se resolvido, temos visto o aumento do crescimento de empregos e da oferta", avaliou Powell.

Ele destacou ainda o "forte" crescimento salarial. Disse, porém, que essa expansão está moderando de forma gradual para níveis mais sustentáveis. "Em muitos, muitos aspectos, as coisas estão voltando ao estado em que estavam em 2019", avaliou.

<b>Dissidentes</b>

O presidente do Federal Reserve afirmou que o objetivo da autoridade monetária é obter o consenso dos dirigentes em suas decisões, mas que nem sempre isso é possível.

"O Fed é uma organização muito orientada para o consenso. Tentamos alcançar o consenso e, idealmente, a unanimidade", explicou Powell.

Ele ponderou, contudo, que é normal as pessoas discordarem. "Também trato as dissidências com verdadeiro respeito", afirmou.

<b>Balanço de ativos</b>

O presidente do Federal Reserve afirmou ainda que o objetivo é desacelerar o ritmo de redução do balanço de ativos da autoridade monetária "razoavelmente em breve". Mais cedo, ele já havia informado que o tema foi alvo da reunião deste mês, mas que nenhuma decisão havia sido tomada a respeito.

"Não quero dar um número específico porque ainda não chegamos a um acordo ou a uma decisão", explicou Powell.

Ele disse ainda que não gostaria de tentar ser "mais específico" quanto ao momento de começar a desacelerar a redução do balanço de ativos do Fed. Segundo Powell, será "razoavelmente em breve". "Estamos analisando o que será um bom momento e o que será uma boa estrutura", acrescentou.

De acordo com o presidente do Fed, o objetivo de longo prazo é retornar a um balanço que consiste principalmente em títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries.

Ele explicou que desacelerar o ritmo da redução do balanço visa a evitar turbulências. No entanto, o Fed observa, de modo mais importante, os próximos dados de inflação e avalia o mercado monetário para saber quando encerrar a redução do balanço. Neste momento, as reservas são "abundantes", avaliou.

<b>CBDC</b>

O presidente do Federal Reserve disse que a autoridade monetária ainda não se decidiu sobre a emissão de uma moeda digital própria (CBDC, na sigla em inglês).
"Não estamos nos preparando para propor, não propusemos, não chegamos à conclusão de que deveríamos propor ou algo assim, que o Congresso considere uma legislação para autorizar um dólar digital", comentou.

Powell disse que o Fed está "muito, muito longe" de ter uma moeda digital própria, na contramão de outras autoridades monetárias como, por exemplo, o Banco Central (BC) brasileiro, que prepara o lançamento do real digital, batizado de drex .

O presidente do Fed afirmou, porém, que o BC dos EUA monitora o que tem acontecido nas finanças digitais.

Ao encerrar a coletiva de imprensa, após manter os juros estáveis novamente, Powell afirmou que a inflação de janeiro e fevereiro sugere que são necessárias mais provas para aumentar a confiança de que a inflação está a descer de forma sustentável em direção ao objetivo de 2% ao ano.

"Não esperamos que seja apropriado começar a reduzir as taxas até que estejamos mais confiantes", concluiu Powell.

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