Brasília, 09/08/2015 – Diante do agravamento da crise, a presidente Dilma Rousseff decidiu chamar todos os presidentes e líderes dos partidos da base aliada para conversar durante esta semana. A decisão foi tomada após reunião com o grupo da coordenação política do governo. Ao todo, 13 ministros, o vice-presidente da República, Michel Temer, e dois líderes petistas no Congresso participaram do encontro realizado ontem à noite no Palácio do Alvorada.
Na semana passada, o Planalto foi surpreendido com o anúncio de rompimento feito por dois partidos da base aliada, que juntos somam 44 deputados na Câmara. Lideranças do PTB e PDT disseram que não iriam mais seguir as orientações do governo, alegando falta de diálogo.
“A presidente quer dialogar com todos os partidos da base. Nós reconhecemos as dificuldades políticas que estamos enfrentando, mas temos a confiança que essas dificuldades serão superadas com diálogo”, afirmou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.
O esfacelamento da base aliada foi o principal assunto da reunião. O diagnóstico foi direto: é preciso recompor a base, formada por nove legendas, para garantir a governabilidade. Segundo Edinho, as conversas serão realizadas separadamente com cada partido. “Nós temos que dialogar com os partidos, temos 362 deputados e a gente perdeu eles, agora teremos que recuperá-los”, relatou um outro ministro presente na reunião.
O Planalto vem sofrendo sucessivas derrotas no Congresso. A situação, porém, está mais complicada na Câmara, diante do posicionamento beligerante adotado pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na semana passada, a primeira após o recesso parlamentar, os deputados aprovaram uma Proposta de Emenda à Constituição que vincula salários de advogados públicos da Advocacia-geral da União (AGU) e de delegados de polícia à remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A medida é vista como uma “pauta-bomba” por causar um impacto de cerca R$ 2,45 bilhões aos cofres públicos. A expectativa é que o governo consiga evitar a conclusão da votação esta semana. “O governo ainda não se deu por vencido na questão dessa PEC”, relatou um dos presentes na reunião.
A presidente também vai fazer um novo gesto de aproximação ao Senado. Na noite desta segunda-feira, ela vai receber os principais nomes da Casa para um jantar no Alvorada. A expectativa é que Dilma consiga o apoio dos senadores, em especial do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), para barrar o avanço das pautas que prejudicam o ajuste econômico. Para o ministro da Comunicação Social, os parlamentares têm que agir com “responsabilidade” nas votações e levar em conta o “interesse do País e do povo brasileiro”.
Vice
Segundo ministros presentes no encontro, Temer pediu a palavra assim que a presidente terminou de falar. Essa foi a primeira reunião do grupo após o vice, que também é o articulador político do governo, ter dito em público que o País precisava de “alguém que tenha a capacidade de reunificar a todos”. A fala foi vista com desconfiança por petistas diante da possibilidade da abertura de um pedido de impeachment contra Dilma.
“O próprio vice-presidente foi enfático na sua fala, do seu compromisso com a governabilidade, com o seu compromisso com a presidente Dilma. Em momento algum vamos permitir que intrigas feitas por alguns setores, da própria base e da oposição, possam provocar ruídos ou dificultar a construção da governabilidade”, disse Edinho.
Os participantes disseram que não foi discutida na reunião nenhuma mudança ministerial e que o governo não está preocupado com as manifestações marcadas para o próximo domingo, que pedem o impeachment de Dilma. “A presidente foi eleita para cumprir quatro anos de mandato. Nós não podemos brincar com a democracia”, afirmou o ministro da Comunicação Social.
A reunião realizada na noite deste domingo, que durou cerca de três horas, costuma acontecer às segundas-feiras. A presidente, porém, decidiu adiantar o encontro porque vai nesta segunda a São Luís do Maranhão inaugurar unidades do Minha Casa, Minha Vida.