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Paralímpico mais rápido do mundo, Petrúcio diz ser pedra bruta que virou joia

Petrúcio Ferreira, de 25 anos, paraibano de São José do Brejo do Cruz, é desde 2019 o atleta paralímpico mais rápido do mundo. Não há, no momento, quem o supere. Na verdade, ele mesmo tem se superado depois que bateu há 13 dias dois recordes mundiais nos 100 metros e 200m da classe T47 (para amputados de membros superiores) que já lhe pertenciam.

Petrúcio já era detentor das duas melhores marcas do mundo, mas as melhorou recentemente, durante o Desafio de atletismo CPB/CBAt em São Paulo, no Centro de Treinamento Paralímpico, ao alcançar 10s29 nos 100m e 20s83 nos 200m, prova que não corria desde 2018. No evento, que tem como objetivo difundir a prática do atletismo entre corredores olímpicos e paralímpicos, que disputam as provas entre si, sem qualquer distinção, o brasileiro superou até mesmo atletas sem deficiência.

Baixar ainda mais os tempos era algo que estava nos seus planos. Em 2021, ele foi campeão paralímpico, mas não ficou satisfeito com a marca que lhe deu o ouro nos Jogos de Tóquio (10s53). "Foram marcas que eu planejava alcançar mesmo, especialmente nos 100 metros", admite o atleta em entrevista ao <b>Estadão</b>. "Foquei nessa melhora em 2022 e queria conseguir o resultado que me deixou engasgado em 2021".

Petrúcio perdeu parte do braço esquerdo, abaixo do cotovelo, em um acidente com uma máquina de moer capim quando tinha 2 anos. Entrou em 2014 para o movimento paralímpico e precisou de pouco tempo para conseguir resultados expressivos. Ele se define como uma "pedra bruta" que foi lapidada com carinho pelo seu treinador, Pedrinho Almeida, até virar joia.

"Não me vejo no auge. Tem muito chão pela frente. Posso melhorar", pondera o velocista, apesar de tudo que já conquistou – dois ouros paralímpicos e um no Mundial de Dubai, em 2019. Seu apogeu, projeta o paraibano, será nos Jogos de Paris, em 2024, quando buscará seu terceiro ouro paralímpico.

"Estarei com 28 anos em Paris. Até lá dá para trabalhar muita coisa. É um tempo curto, mas suficiente para melhorar muita coisa. Vou chegar em Paris na ponta do casco", diz o atleta do Pinheiros. Embora saiba que é difícil correr abaixo dos 10 segundos, o que seria um feito histórico, a meta está no seu pensamento. "Quem sabe? Não será fácil, mas não é impossível", considera. "Vou trabalhar para que, se não conseguir diminuir para menos de 10, me aproximar disso".

A pressão por estar no topo e ter se tornado o velocista a ser batido não o incomoda. "Sempre quando alcanço um bom resultado eu zero minha vida e busco novos objetivos. Não fico me pressionando. Busco ser o mais natural possível", afirma.

Fora das pistas, o paraibano de São José do Brejo do Cruz, pequeno município de menos de 2 mil habitantes, é caseiro. Sai pouco e gosta de estar com a mulher, com quem planeja ter filhos. Mora, treina e estuda em João Pessoa, onde cursa faculdade de Educação Física. Quando há uma brecha na rotina apertada de treinos e competições, volta para o interior da Paraíba para ver a família e ajudar o pai na roça.

"Eu trabalho lá no sítio, boto a mão na massa. Meu pai tem uma pequena propriedade, com alguns animais. Eu o ajudo na rotina. Tiro leite da vaca, corto o capim…", conta.

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