Os políticos citados pela contadora do doleiro Alberto Youssef como participantes do suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, que movimentou volume estimado em R$ 10 bilhões, se esquivam das denúncias com um argumento semelhante: falta de provas. Todos buscam alegações desse tipo para desmentir a reportagem da revista Veja.
Citado pela contadora Meire Poza em depoimento na Polícia Federal, por ter, segundo ela, enviado um assessor para negociar a arrecadação de dinheiro para pagamento de dívidas de campanha, o deputado petista Cândido Vaccarezza, diz que a matéria “é furada”.
“Eles dizem que eu tenho um contato com o Alberto Youssef e dizem que um assessor meu, sem dar o nome desse assessor, procurou essa senhora que eu não sei quem é. Então, é uma matéria furada. Quem foi que procurou? É uma falta de responsabilidade alguém publicar uma matéria dessa. Primeiro, não conheço a pessoa (Meire). Segundo, nenhum assessor nunca procurou essa pessoa. Terceiro, eu não tive dívida de campanha”, afirmou o deputado, por telefone.
A mesma linha de defesa foi adotada pelo ex-ministro Mário Negromonte, que renunciou este ano ao mandato de deputado federal pelo PP baiano para ocupar um cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia. “Não conheço essa moça. Não procede o que ela está dizendo”, disse o ex-parlamentar.
“Sobre a minha pessoa, ela jamais pode citar meu nome em nada. O juiz Sérgio Moura, que está apurando o caso, nunca citou meu nome em nada. Não tem denúncia nenhuma da PF, do MP, nada. Não tem telefonema meu, não tem mensagem, não tem depósito, nada. Repudio veementemente a declaração da contadora que eu nem sei quem é.” Negromonte disse ainda que conversou com seu irmão, Adarico, também citado pela contadora, que negou a acusação.
Também citado pela contadora como um dos beneficiários do esquema de Youssef, de quem teria recebido um depósito de R$ 50 mil, o ex-presidente e senador pelo PTB de Alagoas Fernando Collor desligou o telefone sem responder às perguntas do Broadcast. “Muito prazer em falar com você. É uma alegria enorme! Obrigado”, disse, antes de desligar o aparelho.
À revista Veja, Meire Poza afirmou que Youssef depositara o dinheiro na conta do senador a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-assessor de Collor “também envolvido com a quadrilha”.
A contadora acusou também o deputado André Vargas, que exercia mandato pelo PT, de ter ajudado Youssef a lavar R$ 2,4 milhões. Em troca, teria recebido o frete de um jatinho, no valor de R$ 115 mil, para suas férias na Paraíba. Além disso, relatou que Vargas estava “empenhado em fazer com que dois fundos de pensão de estatais, o Postalis (dos Correios) e a Funcef (da Caixa Econômica Federal), injetassem R$ 50 milhões em um dos projetos do doleiro”.
Por meio de seu advogado, Michel Saliba, Vargas negou as acusações. “Ele nega veementemente ter recebido a viagem. Não foi em troca de nada. E muito menos ele lavou dinheiro. Essa é uma acusação absurda”, disse Saliba. “Que fossem R$ 100, ele nega veementemente”. O mesmo, de acordo com o advogado, vale para a acusação relacionada aos fundos de pensão. “Ele nega.”
Em nota, a Funcef – fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal – voltou a admitir que o diretor do fundo, Carlos Borges, recebeu o doleiro em março deste ano a pedido do deputado Vargas. No encontro, o Youssef de fato apresentou uma proposta à Funcef, mas o projeto teria sido “prontamente descartado” pelo fundo por não se adequar à sua política de investimentos.
De acordo com a nota, que já tinha sido divulgada em abril, Borges não conhecia Youssef antes da reunião, e a Funcef alega que “faz parte da rotina e atribuições dos diretores, gestores e técnicos da Fundação atender gestores, empresários, consultores e técnicos de empresas e bancos para apresentarem seu portfólio de produtos e projetos para análises e possíveis parcerias”. O fundo de pensão reitera que não tem qualquer negócio e nem avalia qualquer projeto com empresas vinculadas ao doleiro.
Procurados, PMDB e PT não quiseram se manifestar.