O Parlamento britânico rejeitou na , em duas votações, a possibilidade de o Reino Unido sair da União Europeia sem acordo, no dia 29. O resultado foi mais uma derrota da premiê, que defendia manter viva a possibilidade de um Brexit sem acordo para obter mais força nas negociações com a Europa. Hoje, a Câmara dos Comuns deve decidir sobre um pedido de extensão do prazo para negociar o divórcio com o bloco.
Na terça-feira, os deputados haviam rejeitado pela segunda vez o acordo proposto por May, por 391 votos a 242. O plano da premiê já havia sido derrotado em 15 de janeiro. Após a votação de ontem, May propôs que o acordo seja submetido ao Parlamento novamente, antes do dia 20, e apresentou uma proposta para prorrogar em três meses o prazo de saída do país da UE, caso não consiga aprovar o Brexit.
Na moção que será votada hoje, May pede sete dias para convencer os deputados a aprovar um acordo. Caso contrário, o governo pedirá ao bloco uma prorrogação do prazo do Brexit. Ela acredita que alguns deputados possam mudar de ideia. O principal argumento da primeira-ministra é que a prorrogação do prazo do Brexit obrigaria o Reino Unido a participar das próximas eleições do Parlamento Europeu – o que muitos britânicos querem evitar.
Reações
Qualquer pedido de extensão do prazo, porém, deve ter aval dos 27 membros da UE e muitos já estão sem paciência com a indecisão dos britânicos. “Só há duas maneiras de deixar a UE: com ou sem um acordo. A UE está preparada para ambas. Não basta votar contra um Brexit sem acordo sem ter um acordo”, disse um porta-voz da Comissão Europeia. “Nós firmamos um acordo com a premiê e a UE está pronta para assiná-lo.”
Michel Barnier, negociador-chefe da UE, questionou a validade de conceder mais prazo para o governo britânico. “Por que estender mais as discussões?”, questionou. “As negociações estão encerradas. Nós temos um acordo de saída.”
Em conversas privadas, o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, definiu o caos que tomou conta da política britânica. “A votação no Parlamento é como o Titanic votando para o iceberg sair do caminho.”
Um Brexit sem acordo significaria o caos na infraestrutura portuária dos dois lados do Canal da Mancha e escassez de alimentos e remédios no Reino Unido. É diante desse risco que os deputados debatem hoje a extensão do prazo. May, porém, disse que apoiaria um adiamento até maio. “A Câmara tem de entender que se ela não apoia um acordo e não quer um Brexit sem acordo, talvez seja necessária uma prorrogação muito mais longa do que o previsto”, disse May.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, admitiu ontem que o prazo para renegociar o Brexit pode ser estendido até 24 de maio, data que antecede as eleições. Mas muitos acham inútil dar mais tempo a May e acreditam que o melhor é acabar com a incerteza, que prejudica a economia do bloco.
“Oito semanas não mudarão a situação”, disse o pesquisador Joachim Friz-Vannahme, da Fundação Bertelsmann, na Alemanha. “Todas as opções estão sobre a mesa do Parlamento e todas elas são bastante claras. De onde virá o fato novo em um período tão curto?”
Caso ao fim dessas oito semanas o impasse continue, avalia o analista, as coisas podem ficar ainda mais complicadas. “Os europeus estão esperando com calma”, disse. “Eles querem ver o que essa bagunça em Londres trará: um novo primeiro-ministro, novas eleições, um novo plebiscito ou nada.”
Oposição
O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, disse ontem que o Parlamento precisa tirar de May o controle sobre o Brexit, já que ela não consegue solucionar o problema e prometeu encontrar uma saída em negociações com outros deputados.
A sensação de caos voltou a dar fôlego a dois movimentos separatistas no Reino Unido: o irlandês e o escocês. Ontem, Nicola Sturgeon, líder do Partido Nacionalista Escocês, disse que “exercerá o mandato que tem” para convocar um novo plebiscito sobre a independência da Escócia. Na Irlanda do Norte, à medida que Londres ameaça retomar o controle direto sobre a administração do território, em caso de um Brexit sem acordo, os nacionalistas também articulam uma votação popular para unificar a Irlanda. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.