O Parque Augusta completa um ano e ultrapassa a marca de 1,6 milhão de frequentadores. Do gramado com status de "prainha" à arquibancada-plateia para artistas de rua, o espaço no centro de São Paulo se consolidou como um "point" tanto para moradores de diferentes regiões da cidade quanto para atividades propostas pela vizinhança, de ponto de paquera a rodas de meditação.
"Todo mundo quer conhecer, o que é bastante significativo para um espaço de 23 mil m²", comenta o gestor do parque, Heraldo Guiaro, de 63 anos. Em 2022, o espaço atraiu um público mais de cinco vezes superior ao do vizinho Parque Buenos Aires, de dimensões semelhantes (18,7 mil m²), e equivalente ao do Parque da Aclimação (de 112,2 m²), ambos também na região central, segundo a Prefeitura.
AMIGO. Antes gestor do Parque do Ibirapuera, Guiaro percebe algumas semelhanças na relação afetiva do público com os dois espaços, apesar das diferenças de porte. "O pessoal falava do Ibirapuera como um amigo, e acho que o Augusta está indo para esse caminho", compara. Ele cita o caso de uma criança de 5 anos que desenhou o parque como o quintal da escola, localizada no entorno.
O administrador comenta que o parque chega a atrair cerca de 20 mil pessoas nos domingos, grande parte disposta no gramado, em banhos de sol, piqueniques e grupos de amigos. Além disso, atividades culturais, esportivas e voltadas ao bem-estar são realizadas junto à arquibancada e em outros pontos. Todas são voluntárias e, em parte, oferecidas pela própria vizinhança.
Nas redes sociais, espalham-se retratos e fotos de grupos dispostos na "prainha" (gramado) nos fins de semana, por vezes com trajes de banho. O clima democrático e de diversidade costuma ser citado por frequentadores, que dizem se sentir mais à vontade no Augusta do que em outros parques, principalmente no caso de mulheres e da comunidade LGBT+.
Entre os que não moram tão perto, alguns emendam passeios a outros espaços do entorno, como barzinhos, festas e restaurantes do Baixo Augusta, da Vila Buarque e da Praça Roosevelt. Por outro lado, novos edifícios se multiplicaram na região nos últimos anos, atraindo novos moradores e turistas e mudando a característica do fluxo nas calçadas, com menos comércio. O funcionamento é das 5 às 21 horas.
"A gente estende uma canga no chão, senta, conversa, às vezes bebe um pouquinho. Geralmente vou para encontrar amigos ou em um date (encontro)", descreve o estudante Merques Rodrigues de Lima, de 21 anos. Morador da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, ele conta que o Augusta se tornou o parque que visita com mais frequência, cerca de uma vez ao mês. "É confortável, tem um espacinho para tomar sol. Além disso, é um parque bem voltado para o público LGBT, então a comunidade geralmente se junta lá."
<b>LOGO ALI.</b> Vizinha do parque, a maquiadora Vitória Ribeiro, de 27 anos, costuma ir com um colega de apartamento para relaxar e "pegar uma corzinha". "Vou porque é perto e podemos colocar biquíni, para tomar um banho de sol", comenta. "A gente fica lá, conversando, tira bastante foto, depois posta na rede social."
Já o arquiteto Julio Dantès, de 57 anos, frequenta o parque principalmente para realizar atividades físicas. Embora more mais perto da Avenida Paulista, opta por ir até o Parque Augusta. "Por ordens médicas, preciso caminhar todos os dias. Mandaram escolher um lugar que gostasse", explica. "Acho gostoso o local, acho mó barato o pessoal tomando sol na grama, me sinto em Nova York, no Central Park."
Professor do Mackenzie, o urbanista Matheus Casimiro comenta que o Augusta é um parque com peculiaridades que ajudam a explicar a alta procura. Uma delas é que se tornou conhecido antes mesmo da abertura, pela ampla repercussão dos movimentos pela implementação.
Além disso, o parque está localizado nas proximidades de estações de metrô e corredores de ônibus, o que facilita o acesso, e de espaços públicos populares na cidade, como o Baixo Augusta, a Praça Roosevelt e o Minhocão. "É uma potência que o Parque Buenos Aires, por exemplo, não tem."
<b>CUSTO.</b> Em 2018, a Prefeitura fez um acordo com as construtoras proprietárias para a instalação do parque, por R$ 11 milhões, e, no ano seguinte, firmou o termo de transferência. As empresas ganharam créditos para erguer prédios acima do limite básico em outras áreas da cidade sem pagar taxa adicional.
O bulevar que integra o acordo de implementação ainda não saiu do papel. A proposta é de que ligue o Parque Augusta à Praça Roosevelt pela Rua Gravataí.
Segundo nota da Prefeitura, o valor de R$ 250 mil foi depositado pelas construtoras e a gestão Ricardo Nunes (MDB) está "em tratativas com condomínios da região para dar início à execução". A obra envolverá basicamente a reforma de calçadas e a implantação de paisagismo. O projeto não tem relação com o mirante que a Prefeitura pretende adotar na Rua Augusta, em frente à Praça Roosevelt, com vista para a Ligação Leste-Oeste.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>