Alinhada a Jair Bolsonaro na eleição de 2018, uma parte dos representantes dos caminhoneiros abriu diálogo com adversários do atual presidente na disputa deste ano pelo Palácio do Planalto. Porta-vozes dos trabalhadores que há quatro anos pararam o País durante uma greve têm agora conversado com articuladores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante).
A categoria, que ganhou protagonismo eleitoral, se estrutura de forma difusa e usa o WhatsApp como instrumento de mobilização. Dessa forma, possui lideranças pulverizadas e com representações regionais.
A relação do presidente com os caminhoneiros se deteriorou após sucessivos aumentos do diesel. Alguns líderes chegaram a acusar Bolsonaro de traição. Há queixas em relação à política de preços da Petrobras, que hoje segue a cotação internacional do petróleo, e cobranças por fiscalização pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) da tabela do frete, instituída na gestão Michel Temer (MDB) para pôr fim ao movimento de 2018.
O governo tenta aplacar a insatisfação com uma "bolsa-caminhoneiro" de R$ 1 mil. Para a próxima terça-feira, 12, está prevista a votação na Câmara da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que eleva gastos com benefícios às vésperas do pleito. O auxílio de R$ 1 mil, porém, já foi chamado de "esmola" por representante dos caminhoneiros.
Em meio ao desgaste de Bolsonaro, líderes da categoria promoveram encontros com outros pré-candidatos. Na semana passada, se reuniram com Ciro. Em nota, o representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer, classificou o encontro como "produtivo".
"Ciro se comprometeu com 100% das nossas pautas e nos passou a certeza de que nossas demandas estarão incluídas no plano de governo", afirmou Dahmer. Também em nota, o pré-candidato disse que há um "encarecimento criminoso do combustível" e afirmou ter "uma proposta detalhada de como recuperar a Petrobras para os brasileiros e mudar sua política de preços".
<b>Articulação</b>
Pré-candidata do MDB, em coligação com o Cidadania e o PSDB, Simone Tebet também tem conversado com parte dos líderes da categoria. Ela se reuniu com o deputado Nereu Crispim (PSD-RS), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, para tratar de pautas e agendará um novo encontro para aprofundar as discussões.
A senadora, no entanto, já se posicionou contra a ideia de intervir na Petrobras. "A gente tem de respeitar a Petrobras como ela é: uma sociedade de economia mista com uma função social estratégica para o Brasil", disse a pré-candidata, em entrevista ao <b>Estadão</b>.
Projetado nacionalmente durante a greve dos caminhoneiros, quando se apresentou como um dos representantes da categoria, Janones mantém interlocução com os motoristas. Assim como Ciro, Bolsonaro e Lula, o deputado ataca os custos dos combustíveis. Em uma rede social, ele afirmou que o governo "não tem coragem para atuar na política de preços, vende nosso petróleo cru sem impostos, não gera interesse para investimento em refinarias no País e praticamente doa o nosso etanol".
<b>Frustração</b>
Parte dos líderes tem criticado abertamente o presidente e suas propostas. "Bolsonaro apareceu com a categoria em 2018, foi eleito com a promessa de fazer o que precisava e agora está acabando com empresas e tudo", afirmou o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Goiás (Sinditac), Vantuir Rodrigues.
Um dos líderes dos caminhoneiros na greve de 2018, o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o "Chorão", manifestou frustração. "Ganhamos, mas não levamos", disse. Ele ajudou a articular o apoio a Bolsonaro na época e hoje é pré-candidato a deputado federal pelo PSD em São Paulo.
Segundo Chorão, a categoria está "mais esperta" e, para ele, a pauta dos caminhoneiros tem de ser apresentada a todos que se colocam na disputa. "Nem entro nessa questão de apoio a candidato A ou B. A categoria não vai cair em falsas promessas. Estamos buscando conversar com todos os presidenciáveis, levando as pautas da categoria, vamos ver se eles colocam no programa de governo", disse.
<b>Polarização</b>
De acordo com líderes ouvidos pelo <b>Estadão/Broadcast</b> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), por ora, a categoria reflete a polarização do País, com mais motoristas apoiando Lula ou Bolsonaro. O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas de Guarulhos (Sinditac), Luís Fernando Ribeiro, disse que Lula tem avançado entre os caminhoneiros.
"Estamos migrando para o PT na esperança de que mude alguma coisa", afirmou. Os discursos do petista contra a política de preços da Petrobras animam parcela da categoria, disseram líderes ouvidos pela reportagem. "A briga vai ser entre Bolsonaro e Lula, então os caminhoneiros já querem apoiar alguém com maior chance", afirmou Ribeiro.
A interlocução entre o PT e parte dos líderes dos caminhoneiros tem sido feita pela Frente Única dos Petroleiros (FUP) e pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, bases de Lula. Uma agenda com petroleiros e o petista está em planejamento, mas ainda não há uma data definida.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>