Estadão

Partidos da Itália abrem negociação sobre continuidade do governo Draghi

Partidos políticos com representação no Parlamento da Itália iniciaram nesta sexta-feira, 15, as negociações que vão definir se há um futuro para o governo de coalizão liderado pelo primeiro-ministro Mario Draghi, em um momento de grave incerteza política em uma das principais economias da União Europeia.

Mario Draghi entregou um pedido de demissão ao presidente italiano, Sergio Mattarella, na quinta-feira, 14, após perder a confiança do Movimento Cinque Stelle (M5S, ou Cinco Estrelas) – partido antissistema mais votado nas últimas eleições nacionais – em uma votação no Senado. O pedido foi negado por Mattarella, que indicou que o premiê voltasse ao Parlamento para discutir com líderes partidários a possibilidade de continuidade do governo, sem a necessidade de convocação de uma nova eleição antes do fim do mandato, em 2026.

O premiê só deve comparecer ao Parlamento na próxima quarta-feira, dia 20, após uma viagem oficial de dois dias à Argélia, na segunda e terça-feira. Mas as negociações para formar uma nova maioria no governo já começaram e devem ocupar todo o fim de semana, já que os cenários e as possibilidades são muito variados.

Para muitos observadores, é possível que Draghi aceite um segundo mandato com uma maioria diferente, excluindo o M5E da coalizão. Mas isso teria consequências políticas, pois excluiria o vencedor das eleições legislativas de 2018. Por enquanto, nada vazou sobre a posição dos antissistemas. Apesar do líder do partido, o ex-premiê Giuseppe Conte, ter afirmado que a porta para o diálogo continua aberta: "discutimos, tomamos nota da renúncia de Draghi e continuaremos discutindo", disse.

Dentro da ampla coalizão que forma o governo Draghi, que vai de partidos de direita à esquerda, também não há uma posição clara e unificada, apesar das manifestas preocupações de enfrentar uma eleição e uma troca de governo em um momento delicado para o país, principalmente envolvendo as consequências energéticas e geopolíticas da guerra na Ucrânia,

"Em Moscou, estão brindando, serviram a (Vladimir) Putin a cabeça de Draghi em uma bandeja", ironizou o ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, que abandonou o M5E há um mês, levando com ele cerca de 50 parlamentares para um novo partido, o Juntos pelo Futuro (IPF).

O Partido Democrático (PD), sigla mais tradicional da esquerda italiana e um dos principais integrantes da coalizão que apoia Draghi, prometeu trabalhar para uma solução rápida. "Temos cinco dias para o Parlamento confirmar a confiança no Executivo de Draghi e para a Itália sair deste momento dramático", escreveu seu líder, Enrico Letta, no Twitter.

O maior temor dos partidos de esquerda e de centro é que as eleições legislativas sejam antecipadas, já que quase todas as pesquisas apontam a direita e a extrema-direita como favoritas. Mesmo entre partidos de direita, que integram e que estão fora da coalizão, há certo receio sobre realização de eleições neste momento.

Os partidos Forza Italia, de Silvio Berlusconi, e Liga, de Matteo Salvini, têm dificuldades em explicar os motivos para retirar o apoio a Draghi enquanto o país atravessa um aumento da inflação, uma nova onda de covid-19 e enfrenta as consequências da guerra na Ucrânia. Enquanto o direitista Salvini pede eleições antecipadas, Berlusconi se limita a manifestar sua preocupação com a situação econômica e social do país.

"Vários líderes políticos acreditam que eleições antecipadas seriam um resultado desejável, porque o governo praticamente perdeu sua capacidade de adotar novas reformas e tomar decisões politicamente difíceis", afirmou Lorenzo Codogno, economista e professor visitante da London School of Economics em entrevista à <i>France-Presse</i>. "Uma eleição antecipada encurtaria uma campanha eleitoral que, de outra forma, seria dolorosamente longa e impediria o governo de funcionar normalmente", ressaltou.

A grande beneficiada por um novo pleito, no entanto, seria a líder de extrema direita, Giorgia Meloni, do Fratelli d Italia (Irmãos da Itália), que sempre se manteve na oposição, conquistando, assim, históricos 25% de apoio do eleitorado, de acordo com pesquisas. (Com agências internacionais).

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