O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que a abertura da economia depende do andamento da pandemia e previu que os sinais dados até aqui apontam que o País estará preparado para uma maior abertura a partir do segundo semestre. Campos Neto fez esta avaliação durante palestra "Monetary policy outlook for Brazil in 2021", em webinar promovido pelo banco J.P. Morgan.
Ele iniciou sua apresentação mostrando um gráfico com a evolução da pandemia no Brasil. "Espero logo não precisar colocar este gráfico mais", disse.
Os avanços da economia, enfatizou, se darão quanto mais dados houver sobre a doença e quanto mais a imunização avançar nos países. Ele citou como exemplo o caso do Chile, o país da América do Sul que tem a melhor taxa de vacinação por habitante. "A vacinação é o fato mais importante, repito isso de novo, de novo e de novo", comentou.
O presidente do BC também informou que o Brasil recentemente aprovou duas novas vacinas, a Sputnik V e a Covaxin. "Novas vacinas estão chegando. Estamos acelerando muito", avaliou.
Ele ainda salientou que muitos países compraram mais doses do que o necessário para sua população e que o governo brasileiro está acompanhando muito de perto a possibilidade de esses imunizantes serem distribuídos para outras nações. Durante a apresentação, Campos Neto mostrou uma tabela com o cronograma esperado da chegada das vacinas no Brasil.
<b>Revisões de PIB</b>
O presidente do Banco Central pontuou que há agências revisando as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021, para porcentuais de alta próximos de 4,5%. Segundo ele, março e abril já foram meses melhores em matéria de crescimento.
Atualmente, o BC projeta crescimento de 3,6% para o PIB este ano. Mas o cálculo tende a ser revisado para cima no Relatório Trimestral de Inflação, a ser divulgado em 24 de junho.
Em sua apresentação, Campos Neto também repetiu a ideia de que a economia brasileira se adaptou às novas formas "de se fazer as coisas". O comentário é uma referência à capacidade das empresas de se adaptarem a um ambiente de restrição de circulação em vários momentos da pandemia do novo coronavírus.
Como em outras apresentações recentes, Campos Neto também pontuou que os efeitos da limitação de deslocamento das pessoas têm se mostrado mais limitados. Ele não discutiu, no entanto, os motivos para isso.
<b>Crédito</b>
O presidente do Banco Central salientou que o mercado de crédito no Brasil tem crescido de forma "bastante forte". "Temos viabilidade de crédito a preços baixos", avaliou durante webinar promovido pelo banco JPMorgan.
O mercado tem prosperado, de acordo com ele, por causa também das questões ligadas à pandemia de coronavírus.
O presidente do BC salientou que todas as empresas foram afetadas pela crise gerada pelo surto, mas que o trabalho da autarquia é tentar verificar os setores e os nichos mais afetados nos últimos meses. "Estamos olhando muito de perto como as companhias estão reagindo (à pandemia)", afirmou.
Campos Neto também avaliou que houve uma melhora da área fiscal e, sobre o mercado acionário, comentou que os investidores locais têm sido cada vez mais presentes. Ele citou ainda que intervenções cambiais têm sido sempre muito pontuais e com objetivos específicos para atender os agentes de mercado. Sobre as contas externas, o presidente do BC comentou que muitos analistas também estão revisando suas projeções para cima e destacou o desempenho do setor agrícolas.
Ele comentou ainda sobre as ações do BC que estão em implantação, principalmente os relacionados com questões tecnológicas. "Nunca paramos nenhum projeto durante a pandemia", pontuou. "A agenda tecnológica é uma verdadeira revolução e os resultados estão melhores do que os previstos. Estamos contentes com os dados", disse ele, citando, em especial o PIX. "Estamos agora falando sobre o PIX internacional. Estamos em contato com outros bancos centrais", relatou.
<b>Capital externo</b>
O presidente do Banco Central destacou que, com a melhora dos dados e das projeções para o crescimento da economia do Brasil e também da área fiscal, é razoável pensar que o País seja destino de recursos internacionais. "O dinheiro internacional está mostrando um crescimento sustentável", considerou.
Ele fez uma retrospectiva sobre o comportamento da liquidez internacional em meio à pandemia e avaliou que o pico da crise ocorreu em março de 2020.
<b>Inflação</b>
No evento, ele foi questionado sobre as questões para as quais o BC está olhando em relação à alta dos preços. Campos Neto lembrou que, no passado, a diretoria da autoridade monetária foi muito criticada porque muitos dos agentes enxergavam uma alta da inflação menor do que a prevista pelo BC. Agora, de acordo com ele, uma das questões centrais a saber qual será o caminho e as possibilidades de contaminação da alta dos preços de energia para outros itens.
"Olhando para 2021, vimos muitos choques e alguma disseminação e agora temos a questão energia e não sabemos se haverá contaminação para 2022", considerou Campos Neto.
De acordo com ele, há possibilidade de essa elevação se perpetuar ainda no ano que vem, mas depois poderá mostrar uma baixa. Além dessa possibilidade, de acordo com ele, também começaram a ser incorporadas nas expectativas outra alta na área de energia, mas não interna como a questão de uma crise hídrica, mas da recuperação dos preços do petróleo.
Isso preocupa alguns agentes, segundo o presidente do BC, porque muitos estão vendo o repasse dessa alta para o varejo. Até porque, para alguns deles, a reabertura mais maciça da economia poderá ser outro impulsionador da inflação.
"Fizemos todos os exercícios e comunicamos isso ao mercado, então olhem para nossas projeções", recomendou Campos Neto.
Para ele, se o desejo é de ter uma normalização da economia, é preciso ter uma inflação mais baixa. "Estamos olhando pra a inflação de 2022 para ver o que é deste ano que vai para 2022, o que é choque temporário, o que é choque permanente e qual será o papel da inflação de serviços nesse momento de reabertura do País", explicou.