O excesso de mortalidade no Brasil entre 1º de janeiro e 17 de abril deste ano foi de 211.847 mortes (ou 64% além do esperado) – mais um indicador a comprovar o impacto da pandemia de covid-19 no número de óbitos no País. O número já é bem próximo ao registrado ao longo de todo o ano passado (275.587 mortes a mais do que o esperado), mostrando o recrudescimento da doença. Para especialistas, o número elevado de mortes deve ter um impacto direto na expectativa de vida.
Os dados integram o Painel de Análise do Excesso de Mortalidade por Causas Naturais no Brasil em 2021, preparado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies e com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).
O painel reúne dados sobre todas as mortes por causas naturais informadas no Portal de Transparência do Registro Civil (RC), levantados em parceria com a Arpen. As mortes naturais são aquelas causadas por doenças ou mau funcionamento interno do corpo e incluem óbitos por covid-19 e outras doenças respiratórias. Os números são comparados com a projeção da mortalidade estimada a partir da série histórica de óbitos, com dados reunidos pelo Sistema de Informação de Mortalidade entre 2015 e 2019.
Os dados reunidos no painel mostram ainda que o excesso de mortalidade no País até 17 de abril já representa 77% do excesso de mortalidade registrado em todo o ano de 2020. "Esta comparação dá uma dimensão do impacto da covid-19 já nos primeiros meses de 2021", afirma o assessor técnico do Conass, Fernando Avendanho.
O acompanhamento das taxas de excesso de mortalidade é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para avaliar os reflexos da covid-19 na mortalidade em geral. "Os dados, associados à análise do número de mortes e infecções da doença, permitem ter um quadro mais preciso sobre as consequências diretas e indiretas da pandemia, fornecendo informações para a formulação de estratégias eficazes para o enfrentamento da crise", reforça o diretor executivo da Vital Strategies no Brasil, Pedro de Paula.
Além das mortes por covid-19, o indicador de excesso de mortalidade registra também os óbitos por atraso no diagnóstico e tratamento de outras doenças, em virtude da crise sanitária e do aumento da demanda dos serviços de saúde. "Além de captar os óbitos por covid, esse indicador também nos fornece informações sobre a mortalidade como um todo, inclusive sobre casos relacionados de forma indireta à pandemia, como o de pessoas que não vão ao hospital por medo de se contaminar, as que morrem em casa, ou as que não são atendidas por conta da sobrecarga dos serviços de saúde", explicou o epidemiologista Renato Teixeira, da Vital Strategies.
<b>Rejuvenescimento</b>
Os números do painel confirmam também a tendência de rejuvenescimento da pandemia e da maior vulnerabilidade dos homens já apontadas por outros indicadores. O excesso de mortes vem crescendo entre a população de até 59 anos e se mantido maior entre os homens. Na população do sexo masculino de todas as faixas etárias, o número esperado de óbitos era de 171.132 até a semana de 11 de abril. O excesso de mortes observado, no entanto, foi de 115.843, equivalente a 68% do que havia sido inicialmente projetado.
Entre mulheres, o porcentual de excesso foi de 61%. O número de óbitos esperado era de 157.533, mas foram identificados 96.004 a mais. Entre homens com até 59 anos, o porcentual de excesso de mortalidade é de 86% e entre mulheres nesta faixa etária, de 81%. Uma das hipóteses que podem explicar o fenômeno é o fato de homens adotarem comportamento de maior risco de contaminação por covid-19. A nova variante P.1 também tem atingido mais a população abaixo dos 60 anos.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>