Opinião

Patrulhas indevidas


Quem me conhece sabe que sou um cara ligado 24 horas por dia. Coisa meio que viciante esse negócio de ter acesso ao mundo a partir do celular ou do tablet. Fora que nas mais de 12 horas de trabalho por dia, estou diante do computador. Assim, fica fácil enlouquecer.


De uns tempos para cá, principalmente após Lula chegar ao poder, cresce essa história de controle social da mídia. São entrevistas de graduados integrantes do governo federal que ganham eco junto a uma militância, a cada dia, mais presente na máquina do Estado. Recentemente, quando denúncias veiculadas na mídia foram responsáveis pela queda de meia dúzia de ministros, de novo atribuiu-se a culpa à imprensa que, para esse grupo, é irresponsável e inventa notícias.


Milito na política desde a adolescência sem nunca ter me filiado a qualquer partido. Mais os 21 anos de redação, que incluem passagens pela editoria de política, sinto ter propriedade para analisar coisas interessantes que ocorrem a nossa volta. Mas a gente consegue se surpreender com a atitude de alguns sujeitos que, provavelmente, influenciados por esse movimento maior de calar a imprensa, vêem fantasmas por todos os lados.


Na quinta-feira, o HOJE trouxe uma pequena reportagem, baseada na reclamação da população, sobre a instalação de um radar eletrônico na avenida Salgado Filho. A lombada eletrônica está baseada em colunas bastante largas sobre as calçadas, o que naturalmente atrapalha a passagens de pedestres.


Para minha surpresa, vi no Facebook que alguns desses militantes diziam que o jornal estava inventando. Que o radar não atrapalha os pedestres, que o problema é pequeno para ganhar tal evidência, que tratava-se de uma ação orquestrada para desestabilizar a administração. Sim. Uma demonstração evidente de como funciona a tal patrulha, que parece estar despreparada para viver numa democracia.


Não há dúvidas que Guarulhos tem uma infinidade de problemas. E é papel da imprensa defender a população. Existem questões maiores? Óbvio. Mas nada mais natural que um jornal diário retrate esse tipo de realidade, que afeta diretamente a vida das pessoas. Não resisti quando percebi que estavam fazendo tempestade em um copo de água.


Para esse tipo de gente, que não sabe lidar com a democracia, jornal bom é aquele que fala só aquilo que ele quer ouvir. Quando revela fatos que o desagradam, o veículo passa a ser tendencioso, mentiroso, golpista. Até aí nada demais. Preocupa mais o fato de estarem preparando indevidamente nossos jovens, baseados em conceitos que mais têm a ver com os tempos da ditadura. Período em que ninguém tinha voz. Lamentável.


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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