Quando, há cerca de um ano, o montanhista Rogério Góes tomou contato com o programa Life, do Green Building Council Brasil (GBC) – organização mundial que direciona o mercado da construção para a sustentabilidade -, constatou que muitos dos seus procedimentos já estavam incorporados à rotina de seu apartamento em Perdizes, em São Paulo. Outros, porém, foram para lá de bem-vindos.
"A troca de todas as lâmpadas por LEDs e o controle diferenciado de fluxo de água nas descargas resultaram em queda expressiva nas contas. E a implantação de contêineres diferenciados na área de serviço permitiu dar a destinação adequada a resíduos", conta Góes, que hoje habita o primeiro apartamento do País oficialmente certificado com o selo Life.
É a primeira certificação instituída pelo Green Building direcionada para interiores residenciais. Outras, como o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), destinada a edifícios corporativos, sugeria práticas sustentáveis tendo em vista a obra por inteiro, da concepção à construção final.
<b>Econômico</b>
"O mais importante dessa certificação foi levar aos interiores residenciais algo antes só acessível às grandes obras", destaca o arquiteto Felipe Góes, filho de Rogério e responsável pela reforma do apartamento. "Quando pensamos em sustentabilidade no espaço doméstico, não fazemos bem somente ao meio ambiente, também tomamos uma decisão inteligente do ponto de vista econômico", adverte.
Lançada em fevereiro de 2021, a certificação Life sugere uma série de procedimentos para imóveis residenciais capazes de ampliar o conforto e bem-estar. Mas, para conquistar o selo de qualidade, o profissional deve enviar toda a documentação exigida – de desenhos a notas fiscais – à apreciação do GBC.
A partir daí, e com base em seis pilares principais – saúde, bem-estar e conforto, qualidade interna do ar, materiais escolhidos, responsabilidade social e uso eficiente de recursos naturais -, a agência emite o certificado com a pontuação obtida. O processo é todo online. A metodologia GBC Life pode também ser aplicada em pequenas reformas.
"É um caminho sem volta. Não que antes não existisse a percepção do quanto nossos hábitos cotidianos podem impactar o ambiente. Mas o tempo que passamos reclusos, na pandemia, propiciou uma reflexão mais aprofundada sobre nosso papel nesse processo", afirma Raul Penteado, presidente do conselho de administração do Green Building Brasil.
<b>Maior interesse</b>
Por tudo isso, acredita Penteado, o interesse pelo selo verde só tende a aumentar. "Hoje é praticamente impossível encontrar um imóvel corporativo que não disponha de algum tipo de certificado que regule, ao menos, o consumo de água e energia. Creio que esse seja também um caminho natural para o setor residencial."
Segundo Felipe Góes, residir em um apartamento pronto não precisa ser visto como um obstáculo à ação. "Devemos aproveitar todas as oportunidades para incorporar materiais e atitudes mais sustentáveis." A seguir, seis estratégias seguras e eficazes para viver de modo mais sustentável que estão ao alcance de todos.
<b>Eficiência energética</b>
A instalação de dispositivos mais eficientes no uso da linha branca – geladeira, máquina de lavar, secadora, lava-louças -, pode reduzir o consumo de energia em até 80%. A maioria dos dispositivos, incluindo carregadores de celulares, consome energia mesmo desligados. Por isso, deixe os aparelhos em espera desligados e desconectados.
<b>Iluminação</b>
Essa é simples. Troque todas as lâmpadas de sua casa, fluorescentes ou halógenas, por LEDs. Eles podem durar até 25 mil horas, em oposição às lâmpadas fluorescentes compactas.
<b>Economize água</b>
Há pequenas coisas, como fechar a torneira enquanto escovamos os dentes ou instalar um filtro de água na torneira da pia da cozinha, para evitar o consumo de garrafas PET. Mas o pulo do gato está na escolha de equipamentos mais eficientes. Tais como um chuveiro de alta eficiência, um vaso sanitário de dupla descarga, medidas que podem reduzir à metade o consumo.
<b>Isolamento térmico</b>
Para diminuir o uso do ar-condicionado, dispor de boas condições de isolamento é essencial. A chave é tentar regular as flutuações de temperatura. Adotar janelas com vidros duplos, por exemplo, pode economizar até 50% de consumo. Dotar as janelas de cortinas pesadas pode ajudar: elas bloqueiam as correntes de ar, retêm o calor no inverno e refrescam no verão.
<b>Não ao desperdício</b>
rgânicos ou recicláveis, os detritos devem ser descartados em lixeiras separadas. Idealmente, todos os alimentos não consumidos deveriam ser compostados. Como isso nem sempre é possível, comece por comprar apenas os ingredientes e produtos de que você precisa mesmo.
<b>Móveis duráveis/b>
Invista em itens bons e duráveis. Ainda assim, antes de dizer adeus a uma peça verifique a possibilidades de fazer pequenas mudanças, doar ou mesmo vendê-la em vez de jogá-la fora. Se a reposição for inevitável, ao menos verifique se a madeira utilizada tem o selo de sustentabilidade FSC.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>