Prestes a completar dez anos na presidência da Gol, Paulo Kakinoff deixará a empresa em 30 de junho. O executivo será substituído por Celso Ferrer, atual vice-presidente de operações da aérea. Após deixar o cargo de CEO, o executivo permanecerá no conselho de administração da companhia – posto que também ocupa na Suzano, na Porto Seguro e no Grupo Vamos. Kakinoff deve ficar afastado de cargos executivos pelo menos até 2023.
A sucessão vinha sendo planejada havia três anos, segundo fontes, e Ferrer já era apontado no mercado como a escolha óbvia caso a empresa optasse por algum executivo de dentro da organização. Ferrer estudou Administração e Relações Internacionais, tem MBA pela Insead e também foi vice-presidente de planejamento da Gol.
A oficialização da mudança veio depois de a Gol anunciar, na semana passada, a criação, em parceria com a colombiana Avianca, de uma nova holding, o Grupo Abra, que vai controlar as duas companhias – além de ter participação na Viva, da Colômbia, e na Sky Airline, do Chile.
O acordo, que ainda precisa ser aprovado pelos órgãos reguladores, deve ajudar as empresas a reduzir custos em um momento em que o setor sofre com a ressaca da pandemia e com a alta do combustível.
Apesar do negócio, porém, Gol e Avianca continuarão a operar separadamente. O novo grupo, com sede no Reino Unido, terá capital fechado. Investidores (sobretudo o fundo Elliot, segundo apurou o <b>Estadão</b>) se comprometeram a injetar até US$ 350 milhões em ações da holding.
O salvadorenho Roberto Kriete, acionista da Avianca, será o presidente do conselho do Grupo Abra. Kriete era dono da Taca e foi responsável pela fusão da empresa com a Avianca, em 2009. Ele também fundou a mexicana Volaris, em 2006. Constantino de Oliveira Junior, da Gol, será o presidente executivo do grupo.
<b>CRÍTICAS</b>
O movimento tem gerado algumas críticas. Para Julia Monteiro, analista da MyCap, o anúncio da troca de comando na Gol ocorreu em um momento de pouca transparência, já que, desde o anúncio da criação da holding, a companhia tem dado poucas informações sobre o desenrolar desse processo. A empresa, segundo ela, tem deixado analistas no escuro a respeito de mais detalhes da medida e da consequente concentração de mercado à qual ela levaria, diz a analista.
Segundo o professor César Bergo, coordenador da pós-graduação em mercado financeiro e de capitais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, a ida de Kakinoff para o conselho de administração da aérea pode ser uma acomodação de governança ligada à decisão de fazer a junção com a Avianca.
Para Bergo, a troca tende a trazer fluidez ao processo, uma vez que o novo comandante tem conhecimento profundo das operações da companhia. "Acredito que tudo isso é mais para facilitar a junção e a criação da nova empresa que vai gerir tanto Avianca como a Gol, para não criar obstáculos. Ele já vinha havia muito tempo à frente da empresa. Isso cria uma certa dificuldade com relação a entendimentos, formalização dos contratos, ajustes", explica o professor.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>