Estadão

PCC planejava em Campo Grande e Porto Velho ações em simultâneo ao ataque a Moro, diz PF

Enquanto a frente principal da Operação Sequaz prendia integrantes da quadrilha que planejava sequestrar o senador Sergio Moro, uma outra parte da ofensiva vasculhava endereços nas capitais de Mato Grosso do Sul e Rondônia onde, segundo os investigadores, há registros da presença da Restrita – núcleo do PCC encarregado de eliminar ex-integrantes da facção e atacar autoridades e agentes públicos. Ao requerer os mandados de busca e apreensão a serem cumpridos em Campo Grande e Porto Velho, a Polícia Federal qualificou os endereços alvo como apartamento PCC/MS e chácara PCC/RO .

A Polícia Federal solicitou as diligências após ver indícios de ações da quadrilha ligada ao PCC nesses locais. As atividades eram anteriores ao plano de sequestrar Moro, indica a representação policial, e foram identificadas durante a análise de anotações interceptadas nas contas em nuvem dos criminosos .

Ao analisar os pedidos, a juíza Gabriela Hardt, que autorizou a abertura da Sequaz destacou que as imagens denotam a existência de outros trabalhos em andamento . A ofensiva foi batizada em referência ao ato de seguir, vigiar, acompanhar alguém .

"Tem-se evidente que o plano delituoso sob apuração possui conexão com fatos a serem executados também no estado do Mato Grosso do Sul e na cidade de Porto Velho, de modo que, preenchidos os requisitos legais, se faz pertinente o deferimento da medida a ser cumprida em tais endereços, que se mostram vinculados à consecução dos planos capitaneados pela Restrita do PCC", anotou a magistrada.

A busca realizada em Campo Grande mira um apartamento cujo endereço foi levantado a partir de uma foto encontrada em conta vinculada a Janeferson Aparecido Mariano, o Nefo , apontado como um dos líderes da Restrita e principal articulador do plano de atentado contra Moro.

A Polícia Federal fez diligências no local antes da abertura da Sequaz, apurando que a locatária do imóvel em questão é esposa de um dos presos na Operação Sicários, por supostas ações que levariam ao ataque de um servidor do presídio federal de Rondônia.

A corporação diz que, como o apartamento continua locado e pago, é possível que lá existam armas e/ou um "cofre", pois normalmente após alguém ser preso os criminosos somem com armas, munições e qualquer material que possa incriminá-los .

"Como no caso em tela o apartamento ainda está alugado, é possível que tenhamos êxito em encontrar armas e munições. Obviamente, depois dos prováveis cumprimentos de mandados relacionados a esta investigação, se não for cumprida ordem judicial lá, os materiais desaparecerão", argumentou a PF ao pedir a busca no local.

Os investigadores também lembraram que, entre os códigos listados por Nefo havia a indicação de que México se referia ao Estado de Mato Grosso do Sul. Em meio as anotações sobre gastos da quadrilha, a PF identificou o uso do código junto da abreviação dd e da expressão ferramenta bico e peq . Segundo a corporação, as indicações são gírias usualmente empregadas no meio criminoso para indicar fuzil e pistolas.

Já em Rondônia, a PF queria localizar uma chácara em local estratégico em Porto Velho. A capital do Estado foi mencionada diferentes vezes nas prestações de contas dos investigados e, segundo a juíza Gabriela Hardt, não há dúvidas quanto à consecução de atos criminosos na cidade .

"A utilização de um sítio na região depreende-se expressamente das imagens das anotações verificadas, estando relacionado, ainda o código Flamengo , sabidamente para se referir a sequestro", anotou a magistrada ao autorizar o cumprimento de mandado de busca e apreensão no local.

Os investigadores chegaram a interceptar um áudio trocado entre os integrantes da quadrilha, no qual se faz menção a caminhonete Ranger, ano 98, que estaria naquele local. Segundo a PF, o veículo está cadastrado no nome de um preso custodiado em Sumaré, no interior paulista.

Na representação policial é citada ainda a suposta presença da Restrita em Cascavel, no Paraná. A cidade é próxima de Catanduvas, onde fica uma penitenciária federal de segurança máxima. Os investigadores identificaram a menção em anotações de página de caderno encontradas na nuvem dos integrantes da quadrilha. Para a PF, as notações indicam que se trata de algo que ainda está no início ou na fase de planejamento .

A página de caderno em questão chega a citar o código STF. Ao autorizar a Sequaz, a juíza Gabriela Hardt lembrou que o código teve significado revelado na Operação Anjos da Guarda, deflagrada pela Polícia Federal em agosto de 2022.

A magistrada afirma que o termo se referiria a plano de sequestro de pessoas . No entanto, na Operação Anjos da Guarda, o plano STF se trataria de uma invasão a penitenciária federal de Brasília. Já o plano de sequestro de autoridades era tradado como STJ.

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