Variedades

Peça Ator Mente reúne 3 textos de Berkoff unidos pela figura de ator frustrado

No centro da história, um ator desiludido com sua carreira. Essa figura é o ponto de ligação entre três textos do autor Steven Berkoff, um dos importantes nomes do teatro britânico, que inspiraram a peça Ator Mente, que estreou na sexta-feira, 14, no Teatro Nair Bello, em São Paulo.

Os textos fazem parte da coletânea One Act Plays (Peças de Um Ato), que reúne um total de 19 peças curtas. Com direção de Marco Antônio Pâmio, a comédia traz no elenco Norival Rizzo, Noemi Marinho, Josemir Kowalick e Luciano Schwab.

O ator que atravessa pelos três textos é Brian Philips, interpretado por Norival Rizzo. Em Quero Um Agente, ele está em um camarim com um colega, Bruce (Josemir Kowalick), antes de entrar em cena para um ato natalino. Nesse momento, lamenta por não ter um agente, o que, para ele, o impede de ter boas oportunidades de trabalho.

Já em Assado, uma mãe (Brian Philips/Norival Rizzo) conta uma história de ninar para filho (Bruce/Josemir Kowalick) e o conto aparentemente inocente se torna um terror assustador. Em Isto é uma Emergência, Brian e sua mulher, Barbara (Noemi Marinho), aparecem conversando em casa. Sem esperança de que o marido faça sucesso como ator algum dia, ela sugere que ele trabalhe como motorista de táxi. Só que a aparição de Joe (Luciano Schwab), um motorista sádico, abala a relação dos dois.

Marco Antônio Pâmio descreve Brian como “um ator já velho, sem perspectiva de trabalho, de carreira, de um eventual sucesso e que sobrevive de pequenos bicos e se vê pressionado pela esposa a arrumar um segundo emprego durante esse período de vacas magras”.

“Ele alinhava as três histórias, porque esta que está no meio das duas outras, sobre uma mãe que conta uma história para o filho, não tem necessariamente a ver com o tema, mas eu decidi fazer essa história como se fosse um ator interpretando uma peça.”

Além da figura do ator dominando o fio narrativo do espetáculo, Pâmio acredita que existem outros elementos que unem essa trilogia, “como o humor muito sarcástico do Berkoff, uma acidez na linguagem e na crueldade com que ele expõe esses temas sem medo de chegar a limites mesmo com relação à sua própria profissão e ofício”, o diretor descreve.

“Ele também é ator, mas provoca de forma muito cáustica na linguagem e nos termos. E também provoca muito e há de causar alguma polêmica na questão do preconceito antissemita nessa história do meio, na qual ele reproduz um conto medieval absolutamente terrível sobre essas questões”, diz.

Pâmio conheceu Berkoff durante a temporada que passou em Londres, onde morou durante um ano fazendo uma escola de teatro, em 1990. “Eu vi Steven Berkoff em dois espetáculos que ele dirigiu e atuou. Um deles era Salomé, do Oscar Wilde, e o outro era uma adaptação para o palco de O Processo, do Kafka. E o Berkoff me chamou atenção, antes de mais nada, como um ator de uma linguagem muito específica, performática, gestual e física”, lembra.

“Só depois fui acompanhar a dramaturgia dele. E eu assisti a um espetáculo aqui em São Paulo nos anos de 1990, com a Beth Goulart e o Guilherme Leme, chamado Decadência. Então, comecei a me interessar ainda mais por esse lado de autor que ele também desenvolve”, conclui.

Serviço:

Teatro Nair Bello. Rua Frei Caneca, 569, 3º piso, São Paulo. Fone (11) 3472-2414. Até 28 de julho. Às sextas e aos sábados, às 21h; e aos domingos, às 19h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Sessões com Tradução em Libras: 21, 22 e 23 de junho.

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