Amigos da faculdade, Sauí e Fábio planejam uma jogada que pode render uma boa bolada: forjar o sequestro de um deles e conseguir um belo resgate pago pelos pais. O golpe tem tudo para dar certo, afinal, eles se conhecem desde crianças, estudaram juntos e criaram uma estranha camaradagem. O que Sauí não sabe é que Fábio guarda mágoas profundas e vai se aproveitar da situação para se vingar. Eis a trama condensada de Amor & Pólvora, peça em cartaz no Teatro de Arena. Com uma duração exígua (55 minutos), a tensão burilada pelo humor domina praticamente toda a ação.
“O texto começou a ser escrito há dez anos, quando contei com a importante supervisão do diretor José Renato”, conta Marllos Silva, autor e diretor do espetáculo. Segundo ele, as observações feitas por Renato – figura essencial da história do teatro brasileiro, que morreu aos 85 anos, em 2011, deixando um vasto legado, como a própria criação do Arena – foram determinantes. “Ele não impunha caminhos, mas sempre me fazia pensar ao apresentar variações para as minhas escolhas”, conta Marllos.
A pretensão era estrear naquela época, mas a morte de Zé Renato, que dirigiria a montagem, provocou um adiamento. O tempo de decantação das palavras, na verdade, foi até benéfico, pois o motivo da vingança de Fábio tornou-se extremamente urgente nos tempos atuais: o rapaz sofreu bullying do suposto amigo quando mais jovens e agora aproveita para um acerto de contas.
“É um personagem desafiante pois, ao longo da encenação, ele vai mostrando que não é, de fato, um nerd que todos podem enganar”, observa o ator Beto Sargentelli, consagrado no gênero musical e agora vivendo um papel dramático, remontando ao início de sua carreira no palco tradicional. “Montei autores clássicos como Pirandello.”
“O que mais nos interessa é mostrar os limites da amizade e como mágoas profundas (causadas aqui pelo bullying) podem resultar em uma vingança”, completa Nalin Junior, que vive Sauí, personagem que, como o público, é surpreendido por uma atitude inesperada do amigo.
No trabalho de direção, Marllos Silva revela a importância que teve seu relacionamento com Zé Renato: a encenação segue os mandamentos que inspiraram a criação do Arena, ou seja, um cenário enxuto (cadeira, corda, celular, revólveres) e iluminação que ressalta a crescente tensão do texto. “Apesar do atraso de quase 10 anos, finalmente vou poder realizar a devida homenagem ao grande mestre que tive no teatro e no espaço criado por ele”, comenta Marllos.
AMOR & PÓLVORA
Teatro de Arena Eugênio
Kusnet. Rua Teodoro Baima, 94.
Tel.: 3259-6409. 6ª e sáb., 21h. Dom., 18h. R$ 50. Até 1º/7
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.