Em 21 anos de carreira, Pelé conquistou uma enormidade de títulos, pulverizou recordes, aniquilou adversários. O Rei do Futebol desfilava em campo com genialidade e competência e acostumou-se a enfileirar taças e troféus com as camisas do Santos, da seleção brasileira e ainda do Cosmos, de Nova York.
TRÊS COPAS
Aos 17 anos, Pelé só entrou no terceiro jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo da Suécia, em 1958. Substituiu Mazzola e formou irresistível dupla de ataque com Vavá. Vitória por 2 a 0 diante da União Soviética, então campeã olímpica, que exalava autoconfiança antes do apito inicial na competição. Mas foi no seu segundo jogo, já pelas quartas de final, contra o País de Gales, que o mundo conheceu Pelé. Ele marcou um gol fantástico.
Sua habilidade superou a retranca armada pelos galeses, que só deram três ataques nos 90 minutos de disputa, contra 67 tentativas do Brasil.
Na semifinal, o garoto que iria eternizar a camisa 10 fez três gols contra os franceses em um período de apenas 22 minutos. Um de cada jeito. E ele nem tinha idade para ver os filmes de Brigitte Bardot, então um mito do cinema.
Outros dois gols foram assinalados na decisão diante dos anfitriões. Foram duas vitórias por 5 a 2 que garantiram a primeira taça para a seleção brasileira. A cena do choro de Pelé nos braços do goleiro Gylmar é inesquecível.
No Chile, em 1962, Pelé se preparou para liderar a seleção ao lado de Garrincha. Aos 21 anos, prestes a marcar o 500º gol na carreira, ele fez um logo na estreia: vitória por 2 a 0 sobre o México. Saiu de campo empolgado, mas uma lesão muscular na coxa – uma das poucas lesões sofridas na carreira -, frente à Checoslováquia, aos 28 minutos de partida, o tirou do restante do torneio.
Pelé recebeu passe de Didi, avançou até a área rival e chutou forte, mas sem direção. O craque levou rapidamente a mão à perna esquerda, revelando uma fisgada que doeu em toda a torcida brasileira. Pelé trocou os gramados chilenos pelas arquibancadas para ver o show de Garrincha e Amarildo, que o substituiu. O Brasil passou por Espanha, Inglaterra, Chile e Checoslováquia para ganhar o bi.
Depois do fracasso na Inglaterra, em 1966, quando o Brasil caiu na primeira fase, em sua pior participação em Copas, Pelé chegou ao México, em 1970, sob suspeita. Afinal, pela primeira vez ficara no banco de reservas – contra o Chile, no Morumbi -, e foi substituído diante da Argentina, em Porto Alegre.
Mas com um preparo físico invejável e esbanjando técnica, Pelé fez quatro gols e deixou lembranças maravilhosas como o chute do meio-campo contra a Checoslováquia, a cabeçada defendida pelo inglês Gordon Banks, o drible sensacional no goleiro uruguaio Mazurkiewicz e o passe milimétrico para o gol de Carlos Alberto Torres, o quarto do Brasil na vitória por 4 a 1 sobre a Itália. Justiça feita ao maior jogador de todos os tempos.
1000 GOLS
Na noite de 19 de novembro de 1969, Pelé cobrou um pênalti contra o Vasco, no Maracanã, e se tornou o primeiro jogador de que se tem notícia a marcar mil gols como profissional. A façanha do Rei e melhor atleta do século 20 ganhou manchetes em todos os cantos do planeta e serviu para dar mais força ao mito Pelé.
Depois do milésimo, ele marcou mais 281 gols, mas nenhum deles teve o impacto daquela cobrança de pênalti que quase foi defendida pelo goleiro argentino Andrada – ao socar o gramado do Maracanã de tanta raiva, ele deixou claro que não queria ter entrado para a história do futebol mundial daquela maneira.
Foram tantos os jornalistas e curiosos que invadiram o campo depois do milésimo gol que o jogo teve de ser interrompido. Carregado em triunfo no Maracanã, Pelé fez um emotivo discurso em favor das crianças pobres e foi muito criticado por isso – mesmo assim, passou o resto de sua vida dizendo que mantinha palavra por palavra do apelo que havia feito no calor de um de seus mais gloriosos momentos como jogador de futebol.
SANTOS NO TOPO DO PLANETA
Uma das maiores façanhas de Pelé foi transformar, com a ajuda de espetaculares companheiros, o Santos em uma grande potência do futebol mundial. De clube antes pouco conhecido fora de São Paulo, a equipe virou uma atração admirada em todos os continentes graças ao talento e ao carisma do Rei. A Vila em que jogava era visitada por estrangeiros.
O auge do Santos ocorreu nos anos de 1962 e 1963, quando o time conquistou duas vezes a Libertadores e duas vezes o Mundial de Clubes. O primeiro título continental foi ganho em conturbada decisão contra o Peñarol. Ela deu ao Santos o direito de enfrentar o Benfica, campeão europeu. No primeiro jogo, disputado no Maracanã, vitória santista por 3 a 2. No segundo, em Lisboa, um espetáculo inesquecível. Com três gols de Pelé, que apresentou um dos melhores desempenhos individuais de sua vida, o Santos goleou os portugueses por 5 a 2 e se tornou o legítimo monarca do futebol mundial.
No ano seguinte, em 1963, a repetição dos dois títulos. Na final da Libertadores, contra o Boca Juniors, Pelé conseguiu o que parecia impossível: calar o mítico estádio La Bombonera, em Buenos Aires. Incrédulos, os argentinos viram o Santos vencer o duelo de volta por 2 a 1, com um gol do Rei. No Mundial, Pelé participou apenas da primeira das três partidas contra o Milan, já que foi tirado de cena por uma lesão muscular.
ATLETA DO SÉCULO
Um dos títulos mais importantes de sua vida Pelé ganhou depois de ter deixado os gramados. Em julho de 1980, o jornal francês LEquipe publicou o resultado de uma eleição feita para apontar aquele que seria o melhor atleta do século 20. O Rei do Futebol foi o vencedor.
Pelé só recebeu o troféu em maio do ano seguinte, no gramado do estádio Parque dos Príncipes, em Paris, onde naquele dia as seleções de Brasil e França se enfrentaram em um amistoso. De terno e gravata, o Atleta do Século deu uma volta olímpica no estádio parisiense aplaudido de pé pela apaixonada torcida francesa.
A vitória de Pelé na eleição promovida pelo jornal francês foi apertada. Ele teve 178 pontos, apenas nove votos a mais que o americano Jesse Owens, mito do atletismo, que ganhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, na Alemanha, em 1936, com a presença de Hitler. O terceiro colocado, com 99 pontos, foi o ciclista belga Eddy Merchx.
FIFA SE DOBRA A PELÉ
Em 2000, a Fifa decidiu eleger o melhor jogador de futebol do século 20 com base em votos coletados na internet e ainda analisando a opinião de especialistas do mundo inteiro. Graças a uma intensa campanha de divulgação feita na Argentina, Diego Armando Maradona, craque e ídolo do país vizinho, campeão do mundo com sua seleção no Mundial disputado no México, em 1986, que morreu aos 60 anos em outubro de 2020, venceu a votação popular na internet. Os especialistas, no entanto, escolheram Pelé com muita diferença para os demais candidatos que disputavam o pleito.
Inicialmente, a Fifa decidiu dividir o prêmio, mas mudou de ideia e considerou o brasileiro seu vencedor – Maradona ganhou um outro troféu, de menor importância. Irritado com a situação, Diego deixou a cerimônia de entrega do prêmio, em Roma, antes do fim.
TÍTULOS BRASILEIROS
Em dezembro de 2010, a CBF oficializou os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa como conquistas nacionais, os igualando ao Brasileirão. Com isso, Pelé passou a ter seis conquistas nacionais pelo Santos. O Rei foi campeão da Taça Brasil em 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965 e do Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, em 1968.
SOBERANO DO PAULISTÃO
O Campeonato Paulista foi o torneio em que Pelé exibiu com mais frequência a sua genialidade, sempre elevando o nome do Santos. Seu desempenho no torneio estadual – que em sua época era muito mais valorizado do que hoje – foi avassalador. Ele conquistou a taça regional nada menos do que dez vezes e terminou como artilheiro em 11 edições da disputa, sendo nove delas consecutivas – entre 1957 e 1965.
O Paulista de 1958, primeiro título conquistado por Pelé, teve uma atuação demolidora do Rei do Futebol. Ele terminou a competição com 58 gols, recorde que nenhum outro jogador sequer chegou perto de igualar até os dias atuais.