Pela primeira vez desde que o Banco Central passou a fazer a compilação dos dados na forma atual, o volume de crédito do mercado brasileiro encolheu no primeiro semestre de um ano. A atual série da instituição teve início em março de 2007. De acordo com o BC, esse segmento apresentou recuo de 2,8% de janeiro a junho de 2016, para R$ 3,130 trilhões. No final do ano passado, o estoque de empréstimos somava R$ 3,219 trilhões. Na primeira metade de 2015, o crédito havia avançado 2,75%.
A previsão do BC para a expansão deste ano é a pior dos últimos tempos também, de 1,00%, mas ainda segue no terreno positivo. Isso significa que a instituição embute em sua projeção um reaquecimento desse mercado na segunda metade de 2016, que sazonalmente ganha mais impulso com o aumento dos negócios, em especial no fim do ano, com o Natal. Até porque, como lembrou hoje o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, a segunda metade de 2015, que já começava a sentir os efeitos da crise atual, é uma base baixa de comparação.
Pelos cálculos da autoridade monetária, o crédito direcionado é o que puxará o mercado, com a previsão de alta de 3%. Já os recursos livres para financiamento devem ter retração de 1% este ano.
Nem em 2008 e 2009, anos da crise financeira internacional, o mercado de crédito doméstico sentiu tanto a fragilidade da economia como agora. Em 2008, o crescimento desse mercado foi de 14,08% no primeiro semestre do ano. Com o baque da turbulência internacional, a expansão de 2009 foi bem mais modesta, de 3,97%, mas ainda no terreno positivo.
A estimativa do BC é a de que o Produto Interno Bruto (PIB) apresente retração de 3,3% em 2016 na comparação com o ano passado. Em junho, o mercado de crédito representava 51,9% do PIB. A expectativa do BC é a de que se mantenha assim até o final do ano, quando essa relação deve atingir 52%.
Escasso e com baixa demanda, pela diminuição da renda, da confiança dos empresários e o temor com o desemprego, o financiamento também sofreu ao longo deste ano com o aumento dos juros. Isso, apesar de a taxa básica Selic estar estacionada em 14,25% ao ano desde julho do ano passado. Como identificou Maciel hoje, o encarecimento do crédito se deu basicamente pelo aumento dos spreads.