Pelo menos 26 crianças e adolescentes considerados vulneráveis – sem dinheiro, sem documentos e distantes de casa – foram retirados de ônibus a caminho da zona sul, no segundo dia da Operação Verão, com reforço do policiamento na orla para evitar arrastões. Mas a anunciada parceria entre a Polícia Militar e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social não funcionou como era previsto: em vez de avisar aos assistentes sociais quando recolhessem jovens, em alguns casos policiais preferiram decidir sozinhos como encaminhar essas pessoas. Como ocorreu no sábado, 26, não houve registros de arrastões ou confrontos com os chamados “justiceiros”, grupo de moradores da zona sul que reagiram aos roubos nas praias no fim de semana anterior.
O jornal O Estado de S. Paulo acompanhou o momento em que três jovens que haviam embarcado sem pagar em um ônibus da linha 455 (Méier-Copacabana) foram abordados por policiais e obrigados a descer do veículo. Em seguida, os policiais autorizaram que eles entrassem de graça em outro ônibus, com a orientação de que voltassem para casa. “Nosso trabalho é não deixar chegarem a Copacabana”, declarou o PM responsável pelo bloqueio na saída do túnel que leva à Avenida Princesa Isabel, início do bairro da zona sul, que abordou os adolescentes.
Os policiais não avisaram aos assistentes sociais da prefeitura sobre a abordagem aos garotos. Eles pararam um ônibus da linha 472 (Leme-Triagem) no sentido contrário à praia e que não seguia até Bangu, na zona oeste, onde moram os jovens. Para chegar em casa, eles teriam que desembarcar na Central do Brasil e tomar outro ônibus, mas não tinham nenhum dinheiro. Foi nesse momento que, questionado sobre como os rapazes chegariam à casa, o policial afirmou que não sabia e acrescentou que sua preocupação era “não deixar chegarem a Copacabana”.
Dois dos rapazes conversaram com a reportagem – um deles disse ter 14 anos e o outro, 17. O terceiro é maior de idade, segundo os amigos. Eles admitiram ter entrado no ônibus pela porta de trás. “Sempre fazemos isso”, disse o rapaz de 14 anos. Eles disseram não ter dinheiro nenhum – no bolso de um deles havia um maço de cigarros – e contaram que aos fins de semana costumam ir à zona sul mesmo sem ter como comprar comida ou bebida. “A gente se vira”, contou, disperso. Sem convicção, os adolescentes afirmaram que iriam mesmo para casa.
Antes, os mesmos policiais haviam retirado de outros ônibus seis adolescentes, e para estes, acionaram a Secretaria de Desenvolvimento Social. Quando os agentes municipais chegaram, dispensaram um deles – que estava com o RG – e levaram os demais para o centro de triagem em Laranjeiras. Um deles disse que não queria ir, mas acabou convencido pela assistente social, que garantiu aos adolescentes que eles não seriam apreendidos.
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, evitou criticar a Secretaria de Desenvolvimento Social, como havia feito após o final de semana anterior, quando arrastões e tumultos assustaram moradores da zona sul. Naquela ocasião, Beltrame afirmou que a polícia não consegue resolver tudo sozinha e que precisa da cooperação de serviços como a assistência social do município. Ontem, o secretário negou que os assistentes sociais estejam ausentes na operação e afirmou que cabe a esses agentes definir o que fazer com as pessoas retiradas dos coletivos. “O critério é feito exatamente pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Quando os ônibus são parados e essas pessoas são retiradas, se não tem assistente social, imediatamente é deslocado um assistente social do ponto mais próximo para fazer a avaliação”, afirmou.
Questionada sobre a ordem dos PMs para que os três jovens voltassem para casa, a Polícia Militar afirmou que “até o momento não há conhecimento de irregulares”, mas que “qualquer anormalidade que tenha ocorrido, será devidamente apurada”.
De acordo com um balanço parcial da Polícia Militar, 26 crianças e adolescentes foram recolhidos e encaminhados para abrigos ao longo do domingo nos bairros de Copacabana, Leblon e no Centro. Somados aos 12 de sábado, o total chega a 38 apreendidos. Outros três adultos foram presos ontem como resultado da Operação Verão. Em Ipanema, a polícia apreendeu quatro motos e um carro.