Será daqui a exatamente uma semana. Na terça, 8, Cannes estenderá o tapete vermelho, iniciando o maior festival de cinema do mundo. Durante 12 dias, as diferentes seções do evento – competição, Un Certain Regard, Quinzena dos Realizadores, Semana da Crítica, Marché du Film – estarão abrigando tudo o que de mais avançado estiver em produção, ou terá sido produzido no último ano. E, então, no sábado 19, o júri presidido pela atriz Cate Blanchett outorgará a Palma de Ouro. Quem vai levar?
O festival ainda nem começou para avaliar tendências, mas depois da polêmica com a Netflix, no ano passado, o 71.º Festival de Cannes não se anuncia menos controverso. Para início de conversa, uma pendência judicial ameaça a seleção oficial de 2018 e só será resolvida por um tribunal de Paris na segunda-feira, 7. O festival selecionou, como filme de encerramento, “The Man Who Killed Don Quixote”, de Terry Gilliam, e o filme está ameaçado de não passar por causa do pedido de interdição do produtor português Paulo Branco. Ele foi parceiro do diretor no começo do projeto, e depois se afastou. Agora tenta recuperar seus direitos.
Cannes – leia-se o delegado Thiérry Fremaux e o diretor geral Pierre Lescure – divulgou nesta segunda-feira uma nota irada acusando Branco de proclamar ao mundo que deve sua carreira ao festival e aos grandes diretores com quem trabalhou, mas que, nesse momento, ao invés de apoiar o evento, o produtor volta-se contra Cannes e tudo o que significa como liberdade de expressão. Paulo Branco poderá se converter na nova persona non grata na Croisette, e isso quando Lars Voin Trier, desligado do festival de 2011 por declarações consideradas racistas na coletiva de “Melancolia”, está de volta com “The House That Jack Built”.
O retorno do autor dinamarquês, mesmo fora de concurso, promete ser um dos destaques deste ano e, para abrir a nova edição, o festival programou outro filme dos mais aguardados. O iraniano Asghar Farhadi fará a abertura com seu thriller em língua espanhola, “Todos lo Saben”. Só o elenco desse filme já vale todo um tapete vermelho – Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem. A seleção, propriamente dita – os filmes que vão concorrer à Palma de Ouro -, privilegia a produção masculina. Thiérry Fremaux já disse que, por mais que respeite movimentos como Times Up e #MeToo, a seleção oficial nunca foi uma questão de gênero. Ele seleciona o que lhe parece melhor, esses são filmes dirigidos por homens – que sejam.
Jean-Luc Godard (“O Livro de Imagens”), Spike Lee (“BlacKklanssman”), Jafar Panahi (“Three Faces”) e Hirokazu Kore-eda (“Shoplifters”) são alguns dos diretores da competição. A italiana Alice Rohrwacher, de Lazzaro Felice, uma das raras mulheres. O Brasil participa da seleção oficial, fora de concurso, com Cacá Diegues – “O Grande Circo Místico”. O festival baixou uma norma. Selfies não serão tolerados no tapete vermelho. Quem insistir, terá o celular confiscado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.