O presidente Barack Obama autorizou o uso do poder aéreo para defender uma nova força de combate apoiada pelos Estados Unidos na Síria, caso ela venha a sofrer ataques de forças do governo sírio ou de outros grupos, disseram as autoridades, uma decisão que pode aumentar o risco de os EUA entrarem em conflito direto com o regime de Assad.
A decisão encerra um longo debate que durou meses sobre o papel que os militares dos EUA devem desempenhar no apoio a seus poucos aliados no campo de batalha e ocorre após os americanos e a Turquia discutirem operações conjuntas para limpar uma zona ao longo da fronteira turco-síria de militantes do Estado islâmico. As autoridades turcas queriam garantias de que os EUA levariam a sério a defesa de forças terrestres de aliados na localidade.
Mesmo que as novas regras permitam ataques do Pentágono para defender a nova força contra o regime de Assad, autoridades militares americanas minimizaram as chances de um conflito direto entre os governos, pelo menos no curto prazo, uma vez que a força recém-formada se comprometeu a combater o Estado islâmico, e não o regime, e não vai atuar em áreas controladas pelo regime.
O Pentágono tem lutado para recrutar rebeldes para o novo programa “treinar e equipar”, que lançou no ano passado. Uma das razões para tal é que os EUA estão pedindo para que lutem contra Estado islâmico, e não contra o regime de Assad. A maioria dos rebeldes, contudo, enxergam o regime como seu principal inimigo. Menos de 60 rebeldes concluíram o programa de treinamento do Pentágono e voltaram ao combate até agora, gerando dúvidas sobre o esforço dos americanos.
O secretário de Defesa Ash Carter reconheceu os problemas de recrutamento, mas disse que o esforço é essencial para a estratégia. Carter diz que o poder aéreo dos EUA por si só não será suficiente e que as forças sírias locais são necessárias para conquistar e ocupar o território, ao mesmo tempo em que o Estado Islâmico é repelido.
Autoridades dos EUA disseram que uma promessa de apoio aéreo defensivo pode ajudar a convencer os potenciais recrutas de que o Pentágono é sério e quer protegê-los, inclusive contra o regime. Mas também sublinharam os muitos desafios que a nova força irá enfrentar ao entrar em um campo de batalha no qual grupos rebeldes rivais estão disputando uma posição dominante e em que se aliar aos americanos tem sido mais uma responsabilidade do que uma vantagem de fato.
Alguns legisladores dos EUA, incluindo o senador John McCain, um republicano do Arizona, têm criticado fortemente o compromisso da Casa Branca com o programa “treinar e equipar”, dizendo que mais precisa ser feito para apoiar os rebeldes tanto na luta contra o Estado islâmico quanto no isolamento ao regime de Assad.
Alistair Baskey, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, se recusou a comentar sobre os detalhes das novas regras do programa, mas disse que o governo deixou claro que ele vai “tomar as medidas necessárias para garantir que essas forças possam realizar com êxito a sua missão”. O apoio dos EUA à força treinada pelo Pentágono, acrescentou, inclui “fogos defensivos de apoio para protegê-los”.
Sob as novas regras, o Pentágono só seria autorizado a realizar as chamadas operações aéreas “ofensivas” na Síria, em apoio à força recém-formada, quando se engaja na luta contra militantes do Estado Islâmico.
Apesar de as novas regras não citarem explicitamente o regime de Assad, autoridades disseram as orientações vão permitir que o Pentágono defenda a nova força contra quaisquer eventuais ataques, incluindo aqueles de autoria do regime de Assad e da Frente Nusra, a afiliada do al Qaeda na Síria.
“Para as operações ofensivas, é ISIS somente. Mas se a força for atacada, iremos defendê-la contra qualquer um que atacar”, disse um oficial militar sênior. “Nós não estamos dando foco ao regime, mas assumimos o compromisso de ajudar a defender essas pessoas.”
As novas regras, recomendadas pelo Pentágono na semana passada e aprovadas pelo presidente, vão ser aplicadas somente às forças treinadas e equipadas pelo Pentágono. Essas forças estão atualmente apenas no norte da Síria, e as autoridades deixaram claro as novas regras não se aplicarão às forças apoiadas pelos EUA no sul da Síria.
As novas regras têm sido discutidas há meses e a demora em chegar a uma decisão refletiu a relutância do governo Obama para anunciar as condições por meio das quais os EUA poderiam se ver em uma briga com o regime de Assad. Fonte: Dow Jones Newswires.