Estadão

Percepção de mais juros nos EUA joga o Ibovespa, que espera por reformas, para baixo

As perspectivas de aumento de juros nos Estados Unidos jogam o Ibovespa para baixo. Essa percepção foi reforçada nesta quarta-feira, 5, na ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), o que pesou nas bolsas, movimento que prossegue nesta quinta-feira, 6.

O sentimento de um novo aperto monetário norte-americano sobrepõe à expectativa de votação da reforma tributária no início da noite. Aqui, a agenda está esvaziada, o que dá espaço para o Índice Bovespa ficar colado ao exterior.

Por ora, o que pesa, são os indicadores divulgados mais cedo nos Estados Unidos. A pesquisa ADP, por exemplo, mostrou que o setor privado dos Estados Unidos criou 497 mil empregos em junho. O resultado veio bem acima da expectativa de analistas, de geração de 250 mil postos de trabalho no mês passado.

"O mercado está olhando para os dados externos. A ADP fortalece a ideia da ata do Fomc, divulgada ontem, que indicou alta dos juros nos Estados Unidos em julho", afirma o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Com isso, as chances de o Fed elevar seus juros básicos em 25 pontos-base, na reunião de julho, se aproximavam de 95% às 10h23 após a divulgação do dado da ADP. Antes, essa hipótese era de 88%. O indicador de emprego do setor privado é visto como uma prévia para o "payroll", o relatório oficial do mercado de trabalho dos EUA, que será divulgado amanhã.

"Este ambiente tem corrigido parte do recente bom humor nas bolsas, hoje com novas perdas nos índices na Europa e em Nova York, em meio ao temor com os impactos do forte aperto nas economias", avalia o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, em relatório.

Apesar da queda em Wall Street na quarta-feira, o Ibovespa subiu 0,40%, fechando aos 119.549,21 pontos, marcando a segunda valorização seguida. Os investidores seguem confiantes no avanço da agenda do governo no Congresso, apesar de o texto da reforma tributária ser votado antes do projeto que altera as regras do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), contrariando a ideia inicial.

Na tentativa de destravar a pauta nesta semana que inclui ainda o novo arcabouço fiscal, o governo já reservou no Orçamento R$ 2,1 bilhões em emendas parlamentares apenas na primeira semana de julho. O valor se aproxima de todo o montante distribuído aos parlamentares em junho (R$ 2,7 bilhões).

Depois de críticas do setor produtivo, o texto da reforma tributária passou por alterações, como a zeragem da alíquota de imposto sobre a cesta básica. A proposta pode agradar as empresas do ramo de consumo na Bolsa, em meio ao embate do governo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). No entanto, as dúvidas em relação à arrecadação podem ser fator de preocupação.

Segundo o economista Álvaro Bandeira, a reforma já "nasce meio torta", dadas as alterações feitas no parecer. "Era algo completamente esperado, mas prejudica o resultado final", diz em comentário matinal.

Ainda que por ora não esteja refletindo no Índice Bovespa, a expectativa de votação do texto da reforma tributária é positiva, diz Laatus. "É uma boa sinalização, apesar de não sabermos exatamente o que tem lá texto. Então, é um sinal mais positivo do que negativo."

Às 11h10, o Ibovespa caía 1,45%, aos 117.810,01 pontos, após ceder 1,52%, na mínima diária dos 117.730,22 pontos, ante abertura aos 119.548,02 pontos.

Posso ajudar?