Os dados de desmatamento da Amazônia considerados pelo Brasil em suas estatísticas oficiais de perda de floresta e de emissões de gases de efeito estufa provocadas pela mudança no uso do solo podem estar sendo subestimados ao não levar outras formas de vegetação.
O alerta foi feito por um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos em pesquisa divulgada nesta quarta-feira, 12, na revista “Science Advances”. Eles compararam os números fornecidos pelo Prodes – o sistema de monitoramento por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que fornece o dado oficial anual – com um mapeamento feito pela Universidade de Maryland. A análise foi para o período de 2000 a 2013 em toda a área da Amazônia Legal.
É basicamente uma questão de metodologia. Enquanto o Prodes tem por objetivo monitorar a perda total na floresta primária – o chamado corte raso – somente no bioma amazônico, o modelo americano (UMD) é mais amplo.
Ele considera todo tipo de perda de cobertura de árvores, incluindo por fogo e por atividade madeireira, e em outras formas de vegetação, como em florestas secundárias (que surgem após uma área totalmente desmatada ser abandonada) e em campos arbustivos, tipo de Cerrado com bosque, na área de transição entre floresta e Cerrado, em especial em parte do Mato Grosso, no Tocantins e no Maranhão. Essa região particularmente vem sofrendo com a expansão agrícola na área conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Segundo cálculos do grupo, liderado por Alexandra Tyukavina, da Universidade de Maryland, os dois modelos são consistentes em mostrar redução do desmatamento na floresta primária em especial a partir de 2008. Como até então o desmatamento da Amazônia era muito alto (o pico, de 2004, foi de 27 mil km²), as perdas em outras áreas não chamavam atenção. Mas com sua queda – 2012 teve o menor valor histórico, de 4.571 km²-, as pressões sobre outras áreas ficaram evidentes.
Tamanho
Para 2013, último ano da análise, o desmatamento nos bosques arbustivos e em florestas secundárias, juntamente com a perda natural e degradação em todos os tipos de florestas, tiveram magnitude semelhante ao desmatamento na floresta tropical úmida primária. Representam 53% da área bruta de perda de cobertura de árvores e de 26% a 35% da perda de carbono bruto sobre o solo.
Isso é importante para os comunicados que o País faz sobre suas emissões de gases de efeito estufa por mudança do uso do solo. Floresta secundária significa árvore crescendo e, portanto, absorvendo carbono. Se ela é perdida, mais contribuímos com o aquecimento global. Outras formas de monitoramento da vegetação, sugerem os autores, devem ser incorporadas a esses cálculos.
Metodologia diferente
O mapeamento desenvolvido pela Universidade de Maryland traduz uma situação que já é conhecida no Brasil, só não é contabilizada nos dados oficiais de desmatamento da Amazônia. É o que explica o pesquisador Dalton Valeriano, coordenador do Programa Amazônia do Inpe.
“O Prodes foi desenvolvido para mostrar o que o Brasil está perdendo em floresta primária. Esse era o seu objetivo inicial e foi importante para ajudar a controlar o desmatamento”, disse. O sistema trabalha com um espécie de máscara, que cobre o que foi perdido até um ano para mostrar o incremento no ano seguinte. “A gente não olha para o passado, mas sempre para o que houve de novo desmatamento. É a metodologia que seguimos. Não dá para mudar e incluir outros dados porque senão vamos perder o parâmetro para continuar a série histórica”, afirma.
Para atender a essas perdas, o Inpe desenvolveu outros monitoramentos. Um deles é o Degrad, para medir a degradação florestal – pela extração de madeiras ou por cortes que não são completos e deixam algumas árvores no campo. Outro projeto é o TerraClass, que investiga o que ocorre em áreas desmatadas no passado. Além disso, o desmatamento no Cerrado também vai ganhar um monitoramento anual.
Valeriano afirma que estudos conduzidos no Inpe com esses outros dados contradizem um pouco o levantamento americano. Eles, porém, se referem a períodos diferentes. Um levantamento feito entre 1994 e 2006 observou que a taxa de perda em floresta secundária não subiu, mas se manteve mais ou menos constante, representando 20% da perda total. Já levantamento do TerraClass aponta que, de 2004 a 2014, houve um aumento de vegetação secundária de 72 mil km², contra uma perda de 148 mil km² de floresta primária. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.