As perdas nas lojas físicas do varejo, em 2018, voltaram a crescer 7 %, após dois anos seguidos de queda. O encalhe de mercadorias, especialmente de itens perecíveis, e o aumento de furtos internos e externos nas lojas foram os principais responsáveis pelo prejuízo que afetou 1,38% das vendas do comércio no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe).
As perdas corresponderam a R$ 21,5 bilhões das vendas do comércio restrito, que não inclui veículos e materiais de construção. A entidade chegou a essa cifra após consultar mais de cem grandes redes varejistas de 12 segmentos.
“No fim de 2018, criou-se uma expectativa favorável para economia, muitas empresas investiram num volume maior de estoque, porém a venda não aconteceu de acordo com o esperado”, diz Carlos Eduardo Santos, presidente da Abrappe.
A frustração de vendas se traduziu em descarte de produtos fora do prazo de validade. No caso de bens não perecíveis, os lojistas fizeram grandes liquidações para se livrar do encalhe.
Santos explica que não é comum o fabricante aceitar de volta produto encalhado e que a logística reversa depende do tipo de negociação fechada entre o varejo e a indústria.
Dos 12 segmentos pesquisados, quem liderou o ranking de perdas foi o supermercado, com
o equivalente a 2,05% do faturamento. Lojas de perfumaria (1,92%) e de moda (1,80%) também registraram prejuízos acima da média do comércio varejista para o período.
A perda de mercadorias é crucial para o comércio a ponto de justificar a criação de uma associação que reúne 500 empresas do varejo nacional para encontrar saídas que evitem esse prejuízo. O impacto das perdas de produtos para as empresas é mais crítico para o varejo alimentar, diz Santos, porque as margens desse setor são pequenas, variam entre 1,5% e 2%.
Na rede de supermercados Condor, que tem 50 lojas espalhadas entre Paraná e Santa Catarina, por exemplo, as perdas totais cresceram 13% no ano passado ante 2017, conta o controller da empresa, Eder Motim. O executivo diz que elas foram concentradas nos perecíveis, especialmente nas carnes e nos hortifrútis. “40% das perdas ocorreram porque apostamos num volume de vendas e ele não aconteceu da forma esperada. Os outros 60% foram por conta furtos na loja e no não recebimento de produtos, com destaque para celulares e TVs.”
Para Santos, da Abrappe, a perda provocada por furtos também tem relação com o avanço da economia informal, que, na sua opinião, abre espaço para a receptação desses produtos.
Cautela. Escaldados pelo encalhe de mercadorias, outra pesquisa mostra que os supermercados estão mais cautelosos nas compras. Eles passaram a ofertar uma variedade menor de itens. Com isso, o índice que mede a falta de produtos nas lojas tem crescido desde janeiro.
Em maio, de cada cem itens, entre alimentos, bebidas e artigos de higiene e limpeza, procurados pelo consumidor, 10,4 estavam em falta nas lojas. Em dezembro, esse número era de 9%, aponta o índice de ruptura da Neogrid, empresa de tecnologia que monitora, em tempo real, 300 mil itens expostos em 40 mil supermercados.
Robson Munhoz, vice-presidente da empresa, diz que quanto maior a ruptura, maior é a perda de venda. “Se o consumidor não encontra o produto que deseja, fica frustrado, a loja deixa de vender e perde o cliente.”
Munhoz diz que há um relação direta entre a menor variedade de itens nas prateleiras e o desempenho da economia. Depois das eleições, os empresários acreditaram que a economia iria deslanchar e o consumidor voltaria às compras. No entanto, diz ele, essa previsão não se confirmou. “Agora, os supermercadistas calibraram as compras e decidiram não empatar um grande volume de capital giro nos estoques, por isso o índice que mede a falta de produtos nas prateleiras aumentou.”
Nos supermercados ajuste é rápido, diz presidente da Apas. Apesar de as vendas dos supermercados paulistas terem ficado abaixo da expectativa dos empresários em 2018 e no primeiro quadrimestre, o presidente da Associação Paulista de Supermercados, Ronaldo dos Santos, não acha que as perdas de mercadorias tenham crescido por causa dessa frustração. “O varejo se ajusta rapidamente”, afirma. A Associação Brasileira de Supermercados, que apura sistematicamente as perdas do setor, deve divulgar os prejuízos de 2018 em agosto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.