Aos 12 anos, Larissa (nome fictício) ficará ao menos 30 dias fora da escola por determinação médica. Após sofrer bullying em três colégios de Belo Horizonte ao longo de três anos, ela está em tratamento psiquiátrico e toma remédios contra depressão. Negra e adotada, adorava ir às aulas, até ser alvo de agressões físicas e psicológica de colegas.
“Era uma das poucas negras do colégio, mas nunca a incomodou. Os colegas nunca haviam dito ou a tratado diferente, apesar de olhares tortos que percebia de alguns pais. Mas, quando fez 9 anos, os apelidos e provocações com sua pele e cabelo começaram”, conta a aposentada Lúcia Helena, de 51 anos, mãe da menina. Após perseguições em duas escolas, foi para um colégio religioso, onde tudo piorou, segundo relato da mãe. “A escola não soube recepcioná-la, e ela foi excluída dos grupos.”
A menina sofria ofensas raciais e a direção dizia que ela entendia errado as “brincadeiras”. Em novembro, foi ofendida por uma menina e revidou com um tapa. A direção quis suspendê-la por entender que ela era a agressora. Desistiu, mas o episódio abalou Larissa, que passou a dizer que preferia morrer a voltar à aula. Em depressão, perdeu as provas finais e a recuperação. Foi reprovada, apesar das boas notas no restante do ano.
“Tentei explicar que ela não tinha condições de fazer as provas, que estava sob efeito de remédios fortíssimos, mas a escola foi irredutível”, diz. A mãe recorreu à Justiça para reverter a reprovação, sem sucesso. Agora tenta ação criminal. A menina está matriculada em outro colégio, para onde vai após se recuperar.
“Ela não quer sair de casa nem conversar, desenvolveu fobia de escola. O dano é tão grave que os médicos me recomendaram não deixá-la sozinha, vigiar o que faz e evitar deixar facas e remédios ao seu alcance”, conta Lúcia. “A gente se culpa por não ter entendido a gravidade do problema antes, por não ter exigido da escola uma ação.”
Em nota, o colégio disse que adotou ações em conformidade com “o regimento escolar” e que se pauta pelo caráter cristão.