Piloto brasileiro mais cotado a entrar na Fórmula 1 nos próximos anos, o mineiro Sérgio Sette Câmara ainda não definiu o seu futuro. Mas garante estar em negociação para virar piloto de testes na principal categoria do automobilismo mundial. As conversas estão avançadas e a McLaren surge como o possível destino, principalmente em razão do vínculo de patrocínio entre a estatal brasileira Petrobrás e o time britânico.
“Tivemos conversas com algumas equipes para ser terceiro piloto. Recebemos várias propostas. Mas estamos com muita calma”, disse o piloto de 20 anos em entrevista ao Estado. “Estamos pensando bastante porque não quero algo que me trave (no mercado), que fique vinculado a patrocínio. Quero ser escolhido para virar piloto de fato no futuro”.
Ele evita apontar nomes de equipes, mas descarta de antemão qualquer chance de entrar num dos três maiores times da Fórmula 1: Mercedes, Ferrari e Red Bull, o que inclui a sua “equipe satélite”, a Toro Rosso. Assim, restam a própria McLaren e equipes medianas como Force India, Sauber, Haas, Williams e Renault.
“Nenhuma conversa é para ter assento para 2019. Todas as negociações são para virar terceiro piloto ou reserva. Mas eu não posso falar o nome”, afirmou. Atualmente na F-2, Sette Câmara sonha com uma chance de ser piloto reserva na Fórmula 1 para poder participar de treinos livres das etapas, ganhar horas em simuladores e pilotar em testes da pré e intertemporada. Seria o primeiro passo para conquistar uma vaga de titular na categoria.
O que poderia facilitar a entrada do brasileiro é o vínculo de patrocínio entre a Petrobrás e a McLaren, embora a estatal brasileira negue qualquer influência nas escolhas da equipe britânica. “A decisão sobre a contratação de pilotos é realizada de forma autônoma pela própria McLaren”, disse ao Estado a assessoria da Petrobrás. Sette Câmara passou a receber apoio da Lubrax, que são as linhas de lubrificantes da estatal neste ano.
O mineiro, contudo, prega calma e avisa que não está desesperado para conquistar seu espaço na Fórmula 1. Ele não descarta disputar pelo terceiro ano seguido a F-2, principal categoria de acesso à elite do automobilismo mundial, em 2019, caso não apareça uma boa oportunidade.
O maior entrave no momento é a obtenção da chamada superlicença, uma exigência da Federação Internacional de Automobilismo (FIA, na sigla em francês) para os novatos na Fórmula 1. É uma forma de a entidade exigir um mínimo de rodagem aos pilotos para evitar maiores riscos nas pistas. Para alcançar esta permissão, é preciso ter no mínimo 40 pontos somados nas categorias de acesso. O brasileiro ainda não tem nenhum. Mas poderia atingir este número de uma vez só se terminar a temporada da F-2 entre os três primeiros colocados. No momento, está em sexto, faltando apenas uma etapa para o fim do campeonato, em Abu Dabi, no fim de novembro.
“Claro que o meu objetivo é ficar em terceiro, mas não quero ficar obcecado por isso. Não adianta chegar na última etapa e correr como um louco, com risco de bater nos outros carros, mostrando imaturidade. A F-1 está toda olhando para nós”, disse o brasileiro. “Não seria o fim do mundo repetir um ano na F-2. Não era o que eu queria, mas, no final das contas, seria mais um ano para adquirir experiência. Na F-1, não se pode errar. A hora de errar é agora. O lugar de aprender é agora na F-2, onde dá para evoluir muito como piloto. Muitos pilotos chegam na F-1, mas poucos ficam. Um outro ano na F-2 me daria esse algo a mais para, quando chegar, permanecer”.
Em sua segunda temporada na F-2, neste ano, Sette Câmara deu um salto evolutivo. Se em 2017, terminou somente na 12.ª colocação geral, ocupa o sexto lugar neste ano e ainda pode subir na classificação. A primeira vitória ainda não veio. Ele já soma sete pódios e uma pole position. Na verdade, poderia estar em melhor situação no campeonato se não tivesse perdido as duas corridas da etapa de Mônaco, no fim de maio, quando sofreu forte acidente e fraturou a mão direita.
“O meu carro quebrou muito neste ano. Com certeza, sofri muito mais quebras do que meus rivais. Se não fosse isso e o acidente em Mônaco, com certeza eu estaria entre os três primeiros do campeonato”, afirma o piloto da Carlin, que evita apontar favorecimento ao seu colega de equipe, o britânico Lando Norris. Ele foi confirmado como um dos titulares da McLaren para 2019. “Foi o único piloto do grid cujo carro não quebrou sequer uma vez”.
Apesar das adversidades, o brasileiro faz uma avaliação positiva de sua temporada. “Foi um ano muito positivo para a minha carreira, pensando na minha posição no mercado de pilotos. Hoje sou um dos protagonistas da F-2. Aproveitei bem a oportunidade, errei pouco e fiz boas corridas. Mostrei que sou rápido e que, se eu tiver um bom carro, vou entregar os resultados”.