No dia 29 de março, o governo pretende desligar o sinal analógico de TV na Grande São Paulo. Isso só vai acontecer, porém, se 93% dos cerca de 22 milhões de moradores da região estiverem preparados para a mudança: os paulistanos e seus “vizinhos” precisam ter uma TV compatível com o sinal digital ou um conversor instalado no televisor. Do contrário, só verão chuviscos na tela. O problema, porém, é que encontrar um conversor digital nas lojas de varejo em São Paulo está mais difícil do que se imaginava.
Nas últimas semanas, o Estado percorreu sete lojas do varejo na região metropolitana de São Paulo, em busca de conversores. Na maior parte delas, havia um único modelo disponível, com preço que variava entre R$ 170 e R$ 190. Em uma das lojas, os vendedores indicaram um aparelho de reprodução de filmes Blu-Ray, afirmando que ele serviria ao mesmo propósito do conversor – informação que não condiz com as especificações do aparelho.
Procurada, a Via Varejo – que administra as lojas Casas Bahia e Ponto Frio – disse que a dificuldade em encontrar os conversores é causada pela “alta na procura”. O Magazine Luiza, por outro lado, disse que “se esforça para oferecer o maior número possível de produtos em suas lojas”. Já as Lojas Americanas informaram que a oferta depende de cada loja.
De acordo com analistas, é difícil encontrar o aparelho em lojas do varejo por dois motivos principais. O primeiro é a falta de interesse das fabricantes em produzir o produto, que gera um baixo retorno financeiro. Com isso, o equipamento é fabricado em menor escala e apenas por empresas menores, como a brasileira Multilaser.
“É um mercado de baixo valor agregado e que acaba se tornando de segunda mão”, afirma Zuffo, da USP. “Grandes fabricantes não tem interesse em fabricar conversores. A tecnologia necessária é cara e gera pouco retorno financeiro.”
Além disso, ao longo dos últimos anos, muitas pessoas compraram uma TV com conversor digital integrado, o que diminui a procura pelo aparelho nesse momento de transição. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros), a partir de 2012 todos os televisores passaram a sair de fábrica com conversor digital integrado. Desde então, mais de 52 milhões de TVs foram vendidas em todo o País. “As pessoas começaram a se preparar quando o sinal digital foi anunciado no País”, afirma o presidente da Eletros, Lourival Kiçula. “Só não compra TV nova quem não tem condições financeiras.”
Segundo estimativas, 19 milhões dos moradores de São Paulo e de outros 36 municípios da região metropolitana estão prontos para reproduzir conteúdos no formato digital. O recomendado, no entanto, é alcançar 20,4 milhões de pessoas.
Dor de cabeça
A baixa oferta de conversores de TV digital no varejo é preocupante, visto que o sinal analógico será interrompido em pouco mais duas semanas e mais de 1,5 milhão de pessoas ainda não estão preparadas, o que pode causar um “apagão” do sinal.
“São Paulo representa o maior desligamento de sinal analógico já feito no mundo”, afirma Marcelo Zuffo, professor do departamento de engenharia de sistemas eletrônicos da Escola Politécnica da USP. “Vamos enfrentar problemas. Muitos dirão que não sabiam que isso ocorreria ou que não encontraram conversores de sinal digital à venda.”
De graça
Para tentar contornar o problema, a Seja Digital – empresa criada pelas operadoras para coordenar a preparação para o desligamento do sinal analógico – está distribuindo kits gratuitos para moradores da Grande São Paulo que sejam cadastrados no Bolsa Família ou Cadastro Único, programas sociais do governo federal. Cada família tem o direito de receber uma antena, um receptor e um controle remoto.
No total, a Seja Digital pretende entregar 1,8 milhão de kits de conversores na região metropolitana de São Paulo – até agora, pouco mais de 500 mil foram distribuídos.
“Estamos otimistas com o desligamento do sinal analógico”, afirma a gerente regional de São Paulo da Seja Digital, Cecília Zanotti. “Temos entregado uma média de 100 mil kits por semana e estamos fazendo uma divulgação agressiva. Vamos alcançar o número de pessoas necessárias.”
Para especialistas, no entanto, é impossível alcançar toda a população da Grande São Paulo antes do desligamento. “Algumas pessoas assistem os comerciais sobre o fim da TV analógica ou veem avisos durante a programação, mas não entendem o que significa”, afirma Kiçula, da Eletros. “Para completar a transição, o governo precisará fazer um trabalho detalhista. Não será fácil, e o governo vai ter vários problemas pelo caminho.”
Para Zuffo, da USP, a transição será dolorosa, mas benéfica. “O sinal digital é um grande avanço para o Brasil”, diz. “As pessoas vão ligar o conversor na TV e vão levar um susto, já que a imagem é muito melhor, sem sombras e não há ruídos ou falhas na transmissão”, diz o pesquisador. “Não podemos atrasar todas as inovações que virão no campo dos televisores.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.