O presidente do Peru, o esquerdista Pedro Castillo, anunciou ontem que decidiu "recompor" o seu gabinete ministerial, o que implica a saída do novo primeiro-ministro, Héctor Valer Pinto, acusado de violência doméstica. "Tomei a decisão de recompor este gabinete ministerial", declarou Castillo em breve mensagem ao país na televisão, sem mencionar diretamente o primeiro-ministro.
Terceiro primeiro-ministro de Castillo em seis meses, Valer iniciou seu mandato sob acusação de ter espancado esposa e filha há alguns anos, uma polêmica que agravou a crise política local. Ele negou as acusações, em entrevista à rádio <i>Santa Rosa</i>.
"Eu não estou mentindo para você, pelo amor de Deus, eu imploro", disse, embora não tenha conseguido explicar a existência de uma medida protetiva de 2017 em favor de sua esposa, por violência física, e uma denúncia de espancamento feita por sua filha um ano antes.
Mais tarde, Héctor Valer despertou o fantasma sobre uma possível dissolução do Congresso, o que já aconteceu em outro governo em 2019, quando em entrevista coletiva disse que, se os parlamentares não derem o voto de confiança à sua equipe ministerial, os parlamentares só terão mais uma chance de censurar um próximo gabinete e então correm o risco de serem dissolvidos pelo presidente.
"Eles terão perdido a primeira bala de prata no Congresso para que depois o presidente use a bala de ouro que é a dissolução do Congresso", disse o primeiro-ministro.
Valer também convidou os sindicatos de psicólogos peruanos a realizar publicamente um exame psicológico e descartar seu suposto caráter violento. "Eu não tenho medo", disse ele. "Eu não sou um abusador, não sou um que bate", disse ele.
Em 2017, a juíza Roxana Palacios ordenou medidas protetivas para Ana Montoya, esposa de Valer, e proibiu o atual primeiro-ministro de conduta que constitua "violência ou assédio" contra sua esposa "sob pena de ser denunciado pelo crime de resistência à autoridade".
A juíza disse que havia "indicadores de abuso corporal" na esposa de Valer, a partir de um atestado médico legal que foi feito à mulher lesada em 22 de outubro de 2016, segundo a resolução judicial publicada pelo jornal El Comercio.
Na manhã de 22 de outubro de 2016, a filha do agora primeiro-ministro, Catherine Valer, denunciou seu pai por violência familiar em uma delegacia de polícia de Lima. A jovem, então com 29 anos, indicou na denúncia confirmada pela agência <i>Associated Press</i> que na noite anterior em sua casa seu pai lhe havia dado "tapas, socos, chutes no rosto e em diferentes partes do corpo e puxões de cabelo".
Gladys Pasos, vizinha de Valer e proprietária do apartamento que o primeiro-ministro alugou, disse à imprensa que vivia com "muito estresse" porque Valer "era muito conflituoso, travesso, mimado, fazia muitos escândalos com a esposa, a filha."
Valer deixou aquela casa depois de morar nela por uma década e não pagou o aluguel nos últimos dois anos, disse Pasos. A esposa de Valer faleceu em 5 de outubro de 2021. Fonte: Associated Press.