Com os corredores tomados por visitantes – os negócios entre editores se encerraram na sexta-feira -, a 70ª Feira do Livro de Frankfurt terminou neste domingo (14) com a consagração do casal Jan e Aleida Assmann, escolhidos para receber o Prêmio da Paz deste ano. Oferecida pela Associação dos Livreiros Alemães, a outorga anual é importante por valorizar ações humanitárias de importância mundial. O casal Assmann, pesquisadores de formação, foi escolhido por seu trabalho de destacar a memória histórica, um fato raro na época atual em que vigora com força o revisionismo.
“Tomamos uma decisão política e atual. Em tempos de extremismo, temos que lidar com o nosso passado”, justificou o presidente da associação, Heinrich Riethmüller. De fato, Jan é egiptólogo e Aleida, especializada em literatura inglesa. Ambos buscam alargar as fronteiras de suas disciplinas e isso, curiosamente, foi o que os aproximou: Aleida tinha a egiptologia como matéria secundária e Jan era interessado por autores de língua britânica. “Na verdade, ele não era um apaixonado, mas gostava de ler textos em voz alta o que me ajudava a dormir”, brincou Aleida, em entrevista para jornalistas.
O notável é que o interesse cruzado ultrapassou a fronteira das salas de aula e eles conseguiram organizar grupos extracurriculares, com um trabalho interdisciplinar desenvolvido fora do currículo da universidade onde ministram suas aulas. Foi daí que os Assmann perceberam a importância da memória, que se tornou a chave de seus trabalhos.
“Na Alemanha, acredita-se que, entre os dois, há uma espécie de divisão de trabalho e que, enquanto Jan dedica-se à pesquisa acadêmica, Aleida assume uma postura mais ensaísta, que é confrontada com debates atuais de diferentes formatos”, observa o jornalista Rodrigo Zuleta, da agência de notícias EFE.
Segundo ele, Aleida gosta de discordar dessa afirmação, sustentando que ela também fez pesquisa acadêmica básica, especificamente em torno do tema da memória na medida em que precisou definir uma série de conceitos que foram aplicados em seus trabalhos concretos. Sua reflexão sobre a forma como os alemães confrontam seu passado teve um momento decisivo há 20 anos, durante o discurso do escritor Martin Walser justamente ao receber este Prêmio da Paz, em 1998. Em sua fala, Walser provocou um escândalo, que logo gerou um acalorado debate, ao falar sobre uma “instrumentalização de Auschwitz” por setores interessados.
“Foi como um chacoalhão: Jan e eu somos de gerações depois da guerra, diferente de Walser e Günter Grass, que viveram diretamente o conflito”, observa Aleida. “Foram homens daquela época que começaram com o trabalho da memória histórica, e o próprio Walser fez contribuições importantes.”
Harry Potter. Foi uma bem armada tentativa – há algumas semanas, a editora alemã Carlsen Verlag vinha convocando fãs de Harry Potter a comparecer fantasiados em um evento programado para a tarde de sábado, 13, em um grande salão da Feira de Frankfurt, o Harmonie, onde habitualmente acontece a cerimônia de abertura da feira. O objetivo era reunir ao menos 1.000 leitores vestidos como alguns dos personagens para bater o recorde mundial, que é de 997 fanáticos. O desafio impunha ainda um evento que durasse pelo menos 100 minutos, com shows de leitura e jogos de perguntas e respostas. Tudo isso para coroar os 20 anos de lançamento na Alemanha do primeiro livro da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal.
Até o italiano Iacopo Bruno, responsável pelas ilustrações das edições comemorativas, compareceu, vestindo uma capa preta e com o indefectível raio desenhado na testa. Esperto, ele foi diplomático ao ser perguntado qual seu personagem preferido. “(A criadora da série) J.K Rowling, que criou todo esse mundo maravilhoso”, respondeu.
A julgar pela movimentação da sala de espera do Congress Center, recheado de bruxinhos e Hermiones, parecia que o recorde seria estabelecido. Para oficializar a marca recorde, estava ali a postos Olaf Kuchenbecker, juiz recordista, membro do Record Institute for Germany (RID), que chancela os novos feitos. Ele acompanhou atentamente a cerimônia e, antes disso, contou todos os participantes. Ao final, um infeliz veredicto: não foi possível atingir a marca mil, o que deixou decepcionados os mais fanáticos. Restou a cada um levar um certificado de participação. Não foi informado o número de participantes presentes.