A combinação de talento e dedicação tornou Saulo Vasconcelos um dos principais atores do musical brasileiro. Pioneiro, participou da fase de implantação dos espetáculos estilo Broadway, participando de A Bela e a Fera, Mamma Mia! e, principalmente, O Fantasma da Ópera, no início dos anos 2000. Agora, depois de passar uma temporada em Portugal, Vasconcelos voltou ao Brasil e já assumiu outro personagem icônico para sua galeria: ele vive o Capitão Gancho em Peter Pan, o Musical, que retornou a São Paulo, no Teatro Alfa.
"É um personagem fascinante, com vários caminhos de interpretação, o que já vimos na primeira temporada desse espetáculo, quando foi muito bem vivido por Daniel Boaventura", comenta o ator. "Assim, busco novas referências, mas sem parecer revolucionário, pois o público espera um tipo já consagrado do Capitão Gancho que não pode ser mudado."
De fato, desde a animação da Disney até a versão estrelada por Dustin Hoffman e dirigida por Steven Spielberg, a história do menino que se recusa a envelhecer já ganhou diversas versões também para o palco, além de interpretações psicanalíticas sobre o desejo masculino de não querer entrar na vida adulta.
<b>AUSÊNCIA</b>
"Capitão Gancho é um personagem criado pelo pai das crianças, Darling, que percebe a lacuna deixada com a ausência da mãe. E, assim como Darling, Gancho busca uma afirmação em meio aos garotos que o servem – uma forma de Darling, um lorde inglês, se esconder por trás de um homem um tanto histriônico", afirma Vasconcelos, que interpreta os dois personagens. "É a sutil conexão para o público perceber que se trata da mesma pessoa. Em alguns momentos, aliás, Darling até fala como Gancho, para reforçar a proximidade."
Com a assinatura da Touché Entretenimento, Peter Pan, o Musical é uma superprodução, com efeitos capazes de surpreender e deleitar o público. Para isso, conta com intrincados efeitos com cordas que permitem que Pan e as crianças voem sobre o palco. Aqui é necessário destacar a interpretação de Mateus Ribeiro como o menino prodígio – com uma presença nada anônima, ele impressiona pela quantidade de recursos cênicos, ciente de estar vivendo seu grande papel. No ar, o ator executa piruetas sem revelar o esforço, como se fosse algo natural.
"Termino as sessões extenuado", conta ele, que contracena com outra novidade no elenco: Carol Costa assume o papel de Wendy, a jovem cuja família é ameaçada pelos piratas do Capitão Gancho. Também pertencente ao primeiro time do musical brasileiro, ela passou por um desafiante processo de ensaios, pois, enquanto se preparava para o papel, estava em cartaz nas últimas semanas de Chicago, espetáculo em que vivia uma mulher completamente diferente.
"Chicago é uma peça mais minimalista, escura, que pede interpretações realistas. Já Peter Pan é o mundo da fantasia, colorido, em que as pessoas voam, uma fábula, enfim", comenta Carol, que contou com o auxílio do maestro Carlos Bauzys para adequar a voz. "Se em Chicago a entonação era mais plena e intensa, puxando para a luxúria, como Wendy é preciso mais suavidade e leveza, mais infantil, algo que lembre uma princesa."
Assim como Vasconcelos, a atriz observa várias camadas na personalidade de Wendy. "A história se passa no início do século 20, quando a mulher tinha um papel mais tímido na sociedade. Wendy, porém, tem uma visão mais libertária – empoderada, na linguagem atual", observa Carol, que também se adaptou à coreografia de Alonso Barros e à direção de José Possi Neto. "A dança ajuda a contar a história."
Peter Pan, o Musical
Teatro Alfa
Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722. 6ª, 20h30. Sáb. e dom.,
15h e 19h30. R$ 50 / R$ 300.
Até 3/7 e de 15/7 a 31/7
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>