Estadão

Petrobras desvaloriza R$ 29,9 bilhões após Prates indicar possível redução em dividendos

A uma semana da apresentação dos resultados da companhia em 2023, as ações da Petrobras dividiram as atenções dos investidores com os papéis da Vale nesta quarta-feira, 29, na Bolsa de Valores, a B3, depois de declarações do presidente da companhia, Jean Paul Prates, sobre mudanças na política de dividendos da estatal. A sinalização dada por Prates, de que os recursos que serão distribuídos podem diminuir, fez desabar as ações da estatal.

Os papéis ON (ordinárias, que dão direito a voto) recuaram 5,39%, e os PN (preferenciais), 5,16%. Como resultado, a empresa, desvalorizou R$ 29,9 bilhões em um único dia.

Pouco antes do fechamento do pregão da Bolsa, a estatal divulgou nota dizendo não haver "qualquer decisão em relação à distribuição de dividendos", e que o tema será tratado em assembleia de acionistas dia 25 de abril, "com base na nova Política de Remuneração aos Acionistas, aprovada pelo conselho de administração em julho de 2023".

Em entrevista à <i>Bloomberg</i>, Prates disse que Petrobras deve ser mais cautelosa em relação à "remuneração dos acionistas" à medida que busca se tornar uma potência em energia renovável. "Os acionistas vão entender. Eu seria mais conservador do que agressivo. Estamos no meio dessa grande decisão de nos tornarmos uma empresa de petróleo em transição."

A declaração surpreendeu os investidores. "Essa fala pegou o mercado de surpresa. A empresa é uma baita geradora de caixa, e no plano estratégico a Petrobras não dizia nada sobre possível impacto de dividendos anteriormente", disse Rodrigo Moliterno, sócio da Veedha Investimentos.

<b>Retornos menores</b>

A mesma percepção teve o analista independente Hulisses Dias. Segundo ele, as declarações de Prates "desanimam" os investidores, que esperavam dividendos maiores da empresa. "O eventual direcionamento do fluxo de caixa para investimentos em energia renovável faz com que a ação caia baseado nos retornos menores que esses projetos apresentam no curto prazo", disse Dias.

Neste mês, a Petrobras bateu recordes de valor de mercado por seis vezes, muito em razão da percepção de que o seu plano de investimentos não foi tão agressivo como o mercado esperava, o que reanimou os investidores, tendo em vista a possibilidade de manutenção de boas cifras em dividendos distribuídos aos acionistas.

Bancos como Goldman Sachs e BTG Pactual avaliaram na época haver espaço para que a companhia continuasse pagando proventos extraordinários, o que repercutiu positivamente sobre as ações.

<b>Sem mudanças</b>

Em um evento da Petrobras no final de janeiro, em Nova York, a direção da empresa havia reiterado sua política de dividendos, aplicada trimestralmente, e mencionou que o dividendo extraordinário deve ser pago apenas uma vez por ano.

"Vemos espaço para um anúncio de até US$ 7 bilhões, mas reconhecemos que o valor a ser pago poderá ser menor dependendo de como a administração conservadora estará na gestão de caixa", afirmaram os analistas do Goldman Sachs, na época. Já o BTG Pactual destacou, também naquela ocasião, que a estatal havia dito que prosseguiria a transição energética "sem abandonar o seu negócio principal nem a sua responsabilidade financeira".

Agora, com a fala de Prates, o ruído em relação aos dividendos da Petrobras volta à cena, segundo o analista Rafael Passos, sócio da Ajax Asset. "Como a Petrobras foi uma das principais distribuidoras de proventos na Bolsa recentemente, o mercado tem muita atenção a isso. E a maior parte das vendas do papel agora é de corretoras estrangeiras", disse Passos.

Entre esses vendedores estrangeiros, estavam Goldman Sachs, UBS BB e Merrril Lynch para as ações ordinárias, e de UBS, Goldman Sachs e CM Capital Markets para as ações preferenciais.

Para Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, Prates sinalizou que o valor dos dividendos deve ser menor, já que sua fala ocorreu próximo da divulgação do balanço de 2023 – a estatal divulga os resultados no dia 7 de março.

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