Vinte dias após a quarta troca na chefia da Polícia Federal (PF) durante o governo Jair Bolsonaro, a corporação acaba de oficializar uma mudança em um posto chave para apurações que incomodam o Palácio do Planalto: a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção (Dicor). O delegado Luis Flávio Zampronha de Oliveira, conhecido por liderar as investigações do Mensalão do PT, foi exonerado e substituído por Caio Pellim, que chefiava a Superintendência da Polícia Federal no Ceará desde junho de 2021.
A diretoria que passa por mudança abriga dois dos setores mais sensíveis da corporação: o que cuida de inquéritos contra políticos e autoridades e o que investiga casos de corrupção. Entre os alvos de tais investigações está o próprio presidente Jair Bolsonaro, inclusive por suspeita de tentar interferir politicamente na corporação para blindar aliados, como denunciou o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro – hoje cotado como pré-candidato ao Planalto – ao deixar o governo.
A mudança foi publicada no <i>Diário Oficial da União</i> desta quinta-feira, 17. Assim como ocorreu quando da nomeação de Marcio Nunes à diretoria-geral da PF, a portaria que chancelou a troca na Dicor foi assinada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, baluarte do Centrão e dirigente do Progressistas.
Na mesma portaria ainda foi registrada mudança na Diretoria de Gestão de Pessoal da PF. O delegado Oswaldo Paiva da Costa Gomide deixou o cargo e em seu lugar assume a delegada Mariana Paranhos Calderon.
Zampronha, que deixa a Dicor, liderou as investigações do Mensalão do PT e voltou ao centro da cena política ao conduzir a Operação Spoofing, aberta em 2019 para investigar hackers que acessaram mensagens do ex-juiz Sérgio Moro, procuradores da Operação Lava Jato e outras autoridades. Ele estava no cargo na cúpula da PF desde abril de 2021.
Pellim assume o cargo chave na corporação após atuar como Superintendente da PF em três Estados: Rondônia (2017-2020), Rio Grande do Norte (2020-2021) e Ceará (desde junho de 2021). Antes, foi delegado regional executivo em Mato Grosso do Sul.
Trocas nos cargos-chave da PF são esperadas desde a nomeação de Nunes de Oliveira, amigo e homem de confiança do ministro da Justiça, Anderson Torres, à chefia da PF. Como mostrou o Estadão, Oliveira tomou o lugar de Paulo Maiurino, cuja exoneração pegou de surpresa os delegados da corporação.
Quando Nunes foi alçado à chefia da PF, delegados apontaram como as mudanças frequentes no principal cargo da corporação fragilizam a instituição e geram "consequências administrativas e de gestão, que podem prejudicar a celeridade e a continuidade do trabalho".
As trocas após novos diretores-gerais assumirem são esperadas, uma vez que eles tendem a montar equipes próprias. Assim, as sucessivas mudanças de número "01" da corporação geram uma reação em cadeia, ampliando o desgaste interno e evidenciando instabilidade – além de serem acompanhadas de alertas sobre possíveis interferências.
Na esteira da troca envolvendo Maiurino e Nunes, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a tentar blindar a Dicor pedindo ao Supremo Tribunal Federal que proibisse o novo chefe da PF de trocar delegados responsáveis por diretorias estratégicas até a conclusão dos inquéritos já iniciados contra autoridades com foro privilegiado.