Estadão

PF encontra planilhas de contabilidade da propina para servidores do Acre

A Polícia Federal (PF) afirma ter encontrado planilhas que registram o pagamento de propinas de empresários a servidores do Governo do Acre em troca do direcionamento de licitações.

A terceira fase da Operação Ptolomeu foi deflagrada na quinta-feira, 9, por ordem da ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A PF fez buscas inclusive em endereços comerciais e residenciais de familiares do governador Gladson Cameli (PP), principal alvo da investigação.

Os registros das contabilidades paralelas foram localizados em celulares apreendidos na investigação e são descritos pela PF no relatório da perícia feita nos aparelhos.

"O pagamento de propina a servidores públicos é tratado com naturalidade e planilhado na prestação de contas entre os empresários", escreve o delegado Pedro Henrique do Monte Miranda, da Divisão de Combate à Corrupção e Crimes Financeiros da PF no Acre.

Um dos arquivos é atribuído ao empresário João Paulo Alves do Nascimento, sócio da Atlas Construção e Comércio, que tem contratos milionários com o governo estadual.

O rascunho, escrito à mão, seria uma repartição da receita recebida a partir de uma nota de pagamento emitida pelo Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deacre). O documento tem uma rubrica para funcionário do Deacre , com o valor correspondente de R$ 11,7 mil.

O arquivo foi enviado a Rudilei Soares de Souza, o Rudilei Estrela , apontado como amigo pessoal e operador financeiro do governador Gladson Cameli (PP), além de alguém com influência nos bastidores do governo.

A PF cruzou os dados das anotações com transferências bancárias feitas na sequência e afirma que os valores batem. "A rubrica funcionário Deacre já traz um comprovante cabal de que a Atlas, a exemplo do que ocorre com a EAS, realiza pagamento de propina a servidores públicos em virtude de contratos celebrados", afirma o delegado.

Outra planilha teria sido enviada por Douglas Soares do Nascimento, da EAS Engenharia, no grupo de WhatsApp intitulado Diretoria EAS . O documento detalha a contabilidade da reforma da Secretaria de Estado de Produção e Agronegócio (Sepa). Nascimento afirma expressamente que os nomes estranhos são as propinas. Os valores chegam a R$ 462 mil, segundo a PF.

Os investigadores também encontraram conversas que reforçam as suspeitas do pagamento de propina pela EAS. O sócio da construtora, Diego Soares do Nascimento, escreve no mesmo grupo de WhatsApp: "Se tiver que negociar, vai lá, negocia direto com ele, veja a porcentagem. Geralmente o que eles cobram é de 5 a 7%. É pouco", afirma. Para a PF, esse seria o percentual de propina cobrado para favorecer as empresas em contratos públicos.

Em outra mensagem, no mesmo grupo, o empresário combina a entrega de dinheiro pessoalmente e afirma que queria uma mochila, uma pasta, alguma coisa para entregar esse dinheiro .

Para os investigadores, a análise dos diálogos travados no grupo corrobora de forma decisiva e densa o suposto esquema de fraudes nos contratos do Governo do Acre.

"A riqueza de detalhes que confirmam materialidade e autoria de diversos crimes no presente caso é raríssima de se encontrar em uma investigação criminal. Estamos com o padrão ouro de elemento de informação no presente caso. Os investigados conversam com absoluta naturalidade, confessando a prática dos mais diversos crimes e envolvendo o governador, empresários e servidores do alto escalão nos mais diversos ilícitos", afirma o delegado.

<b>COM A PALAVRA, A DEFESA DO GOVERNADOR</b>

"O governador não cometeu qualquer ilegalidade. A investigação caminha sem conclusão há dois anos e, ao final, servirá para comprovar sua inocência.

O inquérito é todo ele derivado de relatórios encomendados do COAF, que além de tudo são desprovidos de qualquer coerência.

A gestão do Governador Gladson Cameli sempre foi pautada pela ética e eficiência e, não por outra razão, foi reeleito pelo povo do Acre.

Desde o início do inquérito, o governador já prestou os devidos esclarecimentos, colocou-se à disposição das autoridades e assim permanece."

Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira, advogados do governador Gladson Cameli.

<b>COM A PALAVRA, OS DEMAIS CITADOS</b>

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com os demais citados na reportagem, mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

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