Estadão

PF identifica quadrilha de 7 núcleos em investigação de tráfico de armas para PCC e CV

No rastro da importação de armamento bélico europeu para o PCC e o Comando Vermelho, a Polícia Federal mapeou e identificou, durante a Operação Dakovo, uma organização criminosa dotada de estrutura sólida e permanente com sete núcleos interligados. Os braços da quadrilha, segundo a PF, viabilizavam o tráfico internacional de armas, desde a compra de fuzis, pistolas e munições da República Tcheca, Eslovênia, Croácia e Turquia até sua distribuição para as mais poderosas facções do crime no Brasil – passando por processos de logística, fornecimento, compra, transporte, depósito, exportação e carregamento.

A PF sustenta que no centro das investigações está a empresa International Auto Supply, sediada em Assunção. Os investigadores descobriram que a companhia foi responsável pela comercialização de 348 de um lote de 659 armas de fogo de grosso calibre apreendidas no Brasil entre outubro de 2019 e março de 2023.

De acordo com a PF, a IAS era comandada pelo argentino Diego Dirisio, tido como figura central da organização criminosa, e por sua mulher Julieta Aranda, vice-presidente da companhia. A empresa importava armas da Europa e as revendia no mercado ilícito, especialmente para grupos criminosos sediados em Ciudad Del Este, que faziam o papel de intermediários do abastecimento das facções criminosas brasileiras.

Para viabilizar a importação das armas, Diego mantinha, segundo a PF, um forte esquema de corrupção envolvendo a Agência Direcciónde Material Bélico (Dimabel), instituição paraguaia responsável pelo controle de armamentos no país vizinho.

A organização contava com doleiros e casas de câmbio espalhadas em diversos países para fazer o dinheiro chegar aos fabricantes das armas. O PCC e o Comando Vermelho encomendavam armamento de alto poder destrutivo para o enfrentamento a grupos rivais e forças de segurança.

O pagamento das armas era realizado, ainda de acordo com os investigadores, por meio de um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro , com apoio de uma empresa sediada no Kansas, EUA, pertencente a um paraguaio.

Para fazer o trânsito das armas até o Brasil, Biego Dirisio contava com os funcionários e vendedores da IAS, fora uma rede de intermediários – alguns com lojas de armas e outros com empresas de fachada, atuando exclusivamente para o tráfico de armas.

A Operação Dakovo indica que Diego buscava não ter contato direto com o crime organizado brasileiro. Essa tarefa ficava a cargo de intermediários. Como mostrou o <b>Estadão</b>, a PF flagrou conversas entre intermediários e líderes do PCC e do Comando Vermelho.

Os intermediários não só comercializavam as armas, mas também faziam a raspagem de sua identificação, arregimentavam laranjas para figurarem como compradores legais das armas, tratavam com doleiros para recebimento dos valores e também faziam a travessia segura para o lado brasileiro.

O inquérito da Operação Dakovo aponta que alguns militares da Agência de Material Bélico paraguaia integravam o esquema sob suspeita. A PF relata existência de indícios de propina para quadros da agência facilitarem a importação do armamento europeu.

No Brasil, operava um núcleo financeiro da quadrilha, integrado por pessoas que figuram nos comprovantes de depósitos, e que permitiram o uso de suas contas bancárias para o recebimento de pagamentos de armas e drogas por parte de criminosos no Paraguai .

Entre os suspeitos de integrarem esse núcleo está um servidor do Ministério Público Federal, afastado por força de decisão judicial – Wagner Vinícius de Oliveira Miranda, analista processual, tinha acesso a banco de dados da Procuradoria-Geral da República.

A investigação também constatou que a organização mantinha um núcleo de compradores no Brasil, formado por agentes do Comando Vermelho e do PCC e também por outros intermediários e traficantes de armas.

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