PF prende blogueiro bolsonarista no inquérito dos atos antidemocráticos

A Polícia Federal prendeu nesta sexta, 26, o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, investigado no inquérito que apura o financiamento de atos antidemocráticos no País. Ele foi detido em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

Segundo apurou o <b>Estadão</b>, investigadores identificaram risco de que ele pudesse fugir do país. Monitorado pela PF, Eustáquio poderia estar em contato com outros investigados através de terceiros. Oswaldo teve o sigilo financeiro e bancário quebrado por ordem do ministro Alexandre de Moraes na semana passada, que também cobrou o envio de relatórios financeiros e pagamentos efetuados ao blogueiro pela monetização de vídeos e publicações feitas em suas redes sociais.

A quebra de sigilo engloba o período de 19 de abril do ano passado, o Dia do Exército, marco mais remoto que se pode cogitar do início de eventual concertação para organizar os atos antidemocráticos em apuração, até o dia 03 de maio deste ano – data da manifestação imediatamente seguinte à que aconteceu durante a celebração daquela efeméride neste ano.

O blogueiro mantém um site em que defende medidas e propostas caras ao Planalto, suas publicações são replicadas pelos filhos do presidente nas redes sociais. Em uma de suas lives, um ativista insinuou que o deputado federal Jean Wyllys teria tido contato com o esfaqueador do presidente, Adélio Bispo. Perante a Polícia Federal, o homem não sustentou a versão.

Apesar do desmentido, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) compartilharam uma peça de desinformação derivada da live. Os dois foram condenados pela Justiça a excluírem as publicações em ação movida por Jean Wyllys – Oswaldo também foi alvo da medida.

O blogueiro foi detido no mesmo inquérito que levou à prisão a extremista Sara Giromini, solta nesta semana após dez dias de prisão provisória. Ambos são investigados por integrar núcleo de suposta organização criminosa que visa obter ganhos econômicos e políticos com a divulgação e coordenação de atos antidemocráticos no País. O inquérito sigiloso está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Além dele, outras seis pessoas já foram presas durante a investigação a pedido da Procuradoria-Geral da República, incluindo Sara. Todos eles foram soltos nesta semana, mas serão monitorados por tornozeleira eletrônica.

Pelas redes sociais, Oswaldo afirmou que o seu núcleo de jornalismo investigativo estava na fronteira com o Paraguai para desvendar o segredo do sucesso do País no combate ao novo coronavírus, afirmando que seria a abertura do comércio.

Oswaldo foi condenado em fevereiro a indenizar o jornalista Glenn Greenwald por ter ofendido a mãe dele, Arlene Greenwald, que morreu em dezembro vítima de um tumor no cérebro. Meses antes, o militante postou nas redes que a doença da mãe de Glenn era mentira. A mulher dele, Sandra Terena, é secretária nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

<b>Associação criminosa</b>

O inquérito que apura atos antidemocráticos foi aberto em abril a pedido da Procuradoria-Geral da República. Foi no âmbito desta investigação que Sara Giromini foi presa provisoriamente desde o dia 15 de junho. No dia 14, Moraes autorizou a soltura da apoiadora bolsorista, mas determinou o uso da tornozeleira. Sara só pode sair de casa para trabalhar ou estudar, mantendo distância mínima de 1,5 do Congresso e do STF.

Com a medida cautelar, a extremista está proibida de participar de atos ou manifestações que tem sido conduzidas pelo grupo que liderava, o 300 do Brasil. As medidas cautelares se estendem a outros cinco investigados do inquérito, que também foram detidos.

Em decisão tornada pública na segunda, 22, Moraes mencionou trechos de manifestação sigilosa da PGR que apontam a real possibilidade de atuação de uma associação criminosa voltada para a desestabilização do regime democrático com o objetivo de obter ganhos econômicos e políticos.

"Os indícios apresentados na manifestação apresentada pela Procuradoria-Geral da República confirmam a real possibilidade de existência de uma associação criminosa", escreveu Moraes, em decisão que autorizou buscas e apreensões contra apoiadores do governo. O sigilo bancário de dez deputados e um senador, todos bolsonaristas, foi quebrado.

A PGR identificou vários núcleos ligados à associação criminosa, sendo eles organizadores e movimentos, influenciadores digitais e hashtags, monetização e conexão com parlamentares. Na avaliação da Procuradoria, os parlamentares ajudariam na expressão e formulação de mensagens, além de contribuir com sua propagação, visibilidade e financiamento.

"Os frequentes entrelaçamentos dos membros de cada um dos núcleos descritos acima indiciam a potencial existência de uma rede integralmente estruturada de comunicação virtual voltada tanto à sectarização da política quanto à desestabilização do regime democrático para auferir ganhos econômicos diretos e políticos indiretos", apontou trecho da manifestação da PGR reproduzida por Moraes. A Procuradoria destacou a existência de abusos e crimes que precisam ser apurados no caso.

<b>COM A PALAVRA, O BLOGUEIRO OSWALDO EUSTÁQUIO</b>

Até a publicação desta matéria, a reportagem não havia obtido contato com a defesa do blogueiro Oswaldo Eustáquio. O espaço permanece aberto a manifestações.

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