A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar se o deputado federal Luciano Bivar (União Brasil-PE) ameaçou o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, que lhe sucedeu na direção do partido. O pedido de inquérito está no gabinete do ministro Kassio Nunes Marques, que ainda não despachou. O caso está sob sigilo.
Procurado pela reportagem, o deputado não se manifestou. O União Brasil informou que não vai comentar o caso.
Foi a defesa do próprio Rueda que acionou o STF e pediu a investigação, depois que um incêndio destruiu duas casas de sua família no litoral de Pernambuco, no mês passado. Na época, Luciano Bivar negou relação com o episódio e disse ser vítima de "ilações".
Consultada pelo ministro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que é a favor da abertura do inquérito e pediu as primeiras diligências.
O União Brasil nasceu oficialmente em 2021, a partir da fusão entre o PSL e o DEM. Luciano Bivar, que já dirigia o PSL, permaneceu como presidente do novo partido. Em março, ele foi afastado do cargo, após a briga com Antônio Rueda virar caso de polícia. O ex-presidente da legenda ainda tentou cancelar a convenção partidária que coroou seu desafeto, mas não teve sucesso. Uma ala do União Brasil pede que Bivar seja expulso.
<b>Auge</b>
O União Brasil enfrenta uma crise interna desde seu surgimento. O auge se deu justamente quando o partido aprovou requerimento pela expulsão de Luciano Bivar da legenda. Ele atuava como presidente interino desde a eleição de Antônio Rueda para o cargo, em 29 de fevereiro deste ano.
Bivar não reconhece a decisão tomada pela maioria do partido, de substituí-lo. A troca de comando estava prevista para maio, pelo estatuto da legenda. Em agosto do ano passado, no entanto foi antecipada. Naquele momento, os egressos do Democratas, que se tornaram maioria no União Brasil, demonstravam insatisfação com a condução do partido por Luciano Bivar, cujo apoio estava no antigo PSL.
Nomes como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, se articularam para garantir maioria a Rueda. Os argumentos eram de que o partido precisaria de pulso firme para a condução dos rumos nas eleições de 2024, e para garantir posição unificada em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – apesar de ter ministério, a posição dos parlamentares sempre foi decidida individualmente, sem orientação formal do partido.
Bivar e Rueda têm relação anterior à vida partidária. Foi o deputado federal que iniciou Rueda, seu advogado à época, na política. A proximidade dos dois se deu pela área em que eram especialistas. Bivar, como homem de negócios e Rueda, como seu advogado: o setor securitário.
<b>Mágoa</b>
Bivar saiu magoado do desfecho. Depois do episódio do incêndio, que resultou numa troca de acusações entre ex-aliados, o deputado foi instado a responder a questões, antes de ser afastado do comando do União Brasil. Na gestão de Bivar, Rueda ocupou o lugar de vice. Ao Estadão, em fevereiro, o parlamentar disse considerar a escolha de Rueda "uma traição". E completou: "Não adianta brigar internamente. Vou judicializar, na Justiça comum", disse Bivar.
Ele foi expulso com os votos de 17 integrantes da Executiva Nacional. A reunião extraordinária teve 15 ausências. A animosidade entre os dois ganhou contornos policiais depois do incêndio supostamente criminoso de casas de Rueda, que alega ter sido ameaçado pelo deputado quando se colocou como candidato à presidência do União Brasil. O parlamentar nega participação.
Após a eleição, Rueda falou em pacificação, mas Bivar disse que a eleição foi "viciada".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>