A perspectiva de melhora da economia da zona do euro no segundo semestre, com o início de um ciclo de redução de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) e o cenário de um aumento moderado das exportações dos países da região, gera a expectativa nos mercados internacionais de uma tendência de apreciação do euro ante o dólar ao longo do ano, sobretudo de junho a dezembro.
Especialistas em moedas, na Europa e EUA, entrevistados pelo <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) esperam que o euro pode atingir a cotação de US$ 1,10 no fim do primeiro semestre e ficar perto de US$ 1,12 no término de 2024. Tais projeções consideram um ambiente econômico global com menor inflação e a distensão da política monetária pelo Federal Reserve (Fed) e pelo Banco Central Europeu (BCE) a partir de meados deste ano. Apesar da existência de incertezas geopolíticas, que inclusive podem continuar no Oriente Médio nos próximos 10 meses, eles não esperam choques de oferta globais e têm uma avaliação de que os preços do petróleo tipo Brent devem registrar uma média em 2024 próxima ao atual patamar, ao redor de US$ 81,00 o barril.
"A leve apreciação do euro ante o dólar que esperamos ver no decorrer deste ano ocorrerá em uma conjuntura mais favorável para a economia mundial, na qual investidores deixam a busca de proteção em um quadro de aversão a risco para apenas enfrentar o risco natural que existe no mercado de moedas", comentou Thomas Flury, chefe de estratégia para câmbio do UBS Global Wealth Management.
No entanto, nos próximos dois meses pode ocorrer uma temporária apreciação do dólar perante o euro devido a especulações nos mercados de que o BCE pode iniciar a redução dos juros um pouco antes do Fed, especialmente se a queda da inflação estiver mais pronunciada na Europa do que nos Estados Unidos neste período. A alta de 3,1% do índice de preços ao consumidor (CPI) de janeiro nos EUA, acima das previsões de analistas, reduziu as chances da taxa dos Fed Funds começar a baixar em maio e elevou as apostas de investidores de que tal redução poderá começar em junho.
"Há a possibilidade concreta de o Banco Central Europeu começar a diminuir os juros em abril, antes do Fed. Isto pode ocorrer com a queda da inflação dentro das expectativas do BCE e também com informações de que as negociações salariais realizadas nos primeiros meses deste ano determinaram reajustes que não exercerão pressões de alta sobre os índices de preços ao consumidor", comentou o diretor de análise macroeconômica do banco Intesa Sanpaolo, Luca Mezzomo. Ele espera que a cotação do euro oscilará entre US$ 1,08 e US$ 1,12 nos próximos 9 meses e deverá avançar para uma marca entre US$ 1,12 e US$ 1,14 em dezembro.
<b>Avanço</b>
Em maio ou junho, quando os investidores tiverem um quadro mais claro sobre o início do corte de juros pelo Fed e BCE, provavelmente o euro iniciará uma trajetória mais regular de apreciação ante o dólar. Tal movimento pode ocorrer devido ao cenário de melhora da demanda agregada na zona do euro a partir do final do primeiro semestre, puxado pelo aumento do poder de compra das famílias da região com a queda mais evidente da inflação. "O aumento do consumo na segunda metade do ano na zona do euro deve levar a um crescimento do PIB de 0,7% em 2024, velocidade menor do que o dos EUA, mas será melhor do que a atual estagnação, registrado na região desde 2023", afirmou Nicholas Bennenbroek, economista internacional do banco Wells Fargo.
Um fator adicional que deve incentivar investidores a confiar mais no fortalecimento do euro ante o dólar em meados do ano e que normalmente é pouco considerado como relevante é o bom desempenho da economia dos EUA em 2024, cuja expansão continua vigorosa. Dados recentes como a criação de 353 mil postos de trabalho em janeiro e a taxa de desemprego de 3,7%, apesar dos juros estarem entre 5,25% e 5,5% desde julho, levam vários especialistas internacionais a afastar o cenário de recessão para este ano e passam a avaliar que a economia americana continuará em pleno voo de cruzeiro até 2025.
"Quando o nível de atividade dos EUA está bem, ele ajuda a economia do mundo, inclusive as exportações e o crescimento da Europa", comentou Thierry Wizman, estrategista global para câmbio e juros do Macquarie Group. O mercado americano é o maior importador de produtos europeus, pois representou 19,8% das exportações dos países da União Europeia (UE) em 2022, último dado disponível, segundo a Eurostat, órgão de estatísticas da UE.
O Produto Interno Bruto (PIB) EUA cresceu 2,5% em 2023 e Wizman estima que deve apresentar uma expansão próxima de 2,0% em 2024. Para ele, o euro deve atingir uma cotação entre US$ 1,11 e US$ 1,13 em junho e manterá este patamar até dezembro.
Um outro elemento que pode colaborar para a valorização do euro ante o dólar seria um cenário econômico favorável da China em 2024. "Se o crescimento do país atingir 5% neste ano, o que é viável, dadas as ações fiscais e monetárias que estão sendo adotadas com vigor pelo governo desde agosto do ano passado, isto será um grande fator de impulso à produção industrial e vendas externas das empresas europeias", afirmou Wizman.
<b>Cenário diferente</b>
Há, contudo, um segmento pequeno de especialistas que acredita em um enfraquecimento do euro perante o dólar ao longo de 2024. Para Brad Bechtel, chefe global para câmbio do Jefferies, dada a diferença do ritmo de crescimento dos EUA e da zona do euro, o valor justo para o câmbio entre as duas moedas no momento deveria ser a cotação de US$ 1,05 por euro.
"O Fed deve realizar três cortes de juros de 0,25 ponto porcentual cada e o BCE quatro reduções da mesma magnitude neste ano. Estas ações dos dois bancos centrais não devem alterar de forma significativa o quadro econômico, no qual os EUA apresentam uma firme expansão, enquanto a Europa cresce menos, embora deva iniciar uma retomada no segundo semestre", afirmou Bechtel. "Neste contexto, eu espero que o euro deverá atingir a cotação de 1,04 dólar no final de 2024."