Desde a apresentação de O Nome da Morte na Première Brasil do Festival do Rio, do ano passado, tem havido muita polêmica sobre o longa de Henrique Goldman, interpretado pelo moço aí da foto. O problema não é Marco Pigossi, mas o foco do filme que conta a história de Júlio Santana, pistoleiro de aluguel que afirmava haver matado 492 pessoas. O filme adota seu ponto de vista e vai enumerando os crimes – 1, 2, 10, 100… Júlio pode ser um monstro, mas é contraditório. Bom pai, bom marido. De perto ninguém é normal.
Pigossi está ótimo no papel. Para ele, o problema não é o personagem – Júlio -, mas o Brasil. “Uma história como essa expõe o grande problema desse País, que é a educação. O acesso à cultura, que pode nos fazer pessoas melhores. Destituído de cultura e carregado pelo tio, que é seu ídolo, ele vira esse monstro assassino, que puxa o gatilho quase 500 vezes para matar. Chega uma hora em que não sente mais nada. Está fazendo seu trabalho. Mesmo tentando entendê-lo, eu quero acreditar que o público termina sentindo um mal-estar. Pelo menos, foi assim que o criei.” Um bruto, mas o filme não se esgota nesse registro. Retrata a ineficiência da Justiça e mostra a polícia corporativista e corrupta. O retrato do Brasil profundo é impactante. Que País é esse? Para pegar carona na campanha da Globo, que País queremos?
Pigossi acaba de participar da bem-sucedida supersérie Onde Nascem os Fortes. Seu personagem aparecia praticamente só no primeiro capítulo. Seu desaparecimento e o suposto assassinato só eram solucionados no último capítulo. Pigossi ainda apareceu algumas vezes em flash-back, mas de maneira muito intensa era a sua ausência que movia a trama e revelava outro retrato da arbitrariedade e da violência do sertão como um mundo que se moderniza superficialmente – carros, motos, celulares -, mas que permanece arcaico como estrutura de poder. “É um outro retrato do mesmo Brasil de O Nome da Morte. E não deixam de ser duas vítimas, por mais que Júlio (no Nome) pareça o algoz.” Não por acaso, ambos, o filme e a supersérie, foram escritos por George Moura (o primeiro em parceria com o diretor Henrique Goldman). Brasileiro radicado na Inglaterra, Goldman dirigiu Princesa, sobre uma mulher brasileira trans que migrou para a Itália, e Jean-Charles, sobre o brasileiro morto pela polícia de Londres, como suspeito de terrorismo. É um cineasta que não teme a polêmica.
O ator tem se destacado tanto que é de se perguntar por que topou fazer um papel pequeno como o de Onde Nascem os Fortes? “Pode até parecer clichê, mas um dia a Cássia Kiss me disse, sabiamente, que não existem pequenos papéis, mas pequenos atores. Queria muito trabalhar com o Zé (José Luiz) Villamarim. Quando ele m e chamou e explicou do que se tratava, não vacilei. Faria de novo.” Paulista da capital, Pigossi nasceu em 1.º de fevereiro de 1989 – tem 29 anos, portanto. Foi nadador profissional, tendo sido vice-campeão paulista em 2005, quando já atuava e integrava o elenco da Globo. A partir de Um Só Coração, emendou mais 11 novelas e séries, incluindo trabalhos de grande repercussão como Caras e Bocas, Ti-Ti-Ti, Boogie Oogie, A Regra do Jogo, A Força do Querer.
Na TV, criou a imagem de bom moço, que subverte com O Nome da Morte. “Não quero virar um estereótipo, ficando preso a um só tipo de personagem. Como ator, gosto de mudar, de me testar.” Essa vontade de fazer coisas diferentes o levou a não renovar com a Globo ao ser chamado para fazer uma minissérie da Netflix na Austrália. “Muita gente achou que estava louco, mas não houve rompimento. O que houve foi uma possibilidade incrível. Me chamaram para um papel em inglês, no outro lado do mundo, em outra cultura. Como ator, era tudo que eu queria.”
Tidelands é um drama policial de fantasia. Conta a história de uma ex-presidiária que investiga uma série de mortes misteriosas na vila de pescadores em que cresceu entre humanos e sereias. Entre outros nomes de prestígio, Pigossi atua com a espanhola Elsa Pataky, mulher de Chris Hemsworth, o Thor, na vida, com quem seu personagem tem um romance. A Netflix internacional gostou tanto que já escalou Pigossi para outra produção – no Brasil. Dessa vez será Cidades Invisíveis, projeto live action do rei da animação Carlos Saldanha. O filme viaja pelo folclore brasileiro por meio de detetive que investiga crimes envolvendo seres fantásticos. Emendando um trabalho no outro, Pigossi sonha com merecidas férias para fazer outra coisa de que gosta muito, além de atuar – viajar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.