O projeto Luz, que prevê a integração dos principais museus no bairro (Pinacoteca, Museu de Arte Sacra, Museu da Língua Portuguesa), continua sendo uma ideia, mas um passo para essa definitiva integração será dado no dia 25 de janeiro de 2023, quando a Pinacoteca do Estado inaugura seu terceiro edifício além da sede original (Pina Luz) e da Pina Estação: a Pinacoteca Contemporânea. Pelo menos lá a integração vai sair do papel: o novo museu será totalmente aberto para o Parque da Luz e já começa com duas grandes mostras, uma coletiva com obras do acervo do museu (na Grande Galeria) e uma individual da artista coreana Haegue Yang.
Além de Haegue Yang, a Pinacoteca divulgou sua programação para o próximo ano, revelando que vai abrir uma mostra panorâmica da artista Maria Leontina (1917-1984) nas galerias temporárias da Pina Luz . Não era sem tempo. Eclipsada pelo marido Milton Dacosta (1915-1988), também pintor, a paulistana Maria Leontina passou grande parte de sua vida no Rio, onde frequentou o ateliê do escultor Bruno Giorgi, após aprender pintura com Waldemar da Costa em São Paulo. Ao contrário do marido, não fez concessões estilísticas: foi uma grande pintora de tendência construtiva (nos anos 1950/60) e orientou, ao lado de Dacosta, um ateliê de pintura para doentes mentais no Hospital Psiquiátrico do Juqueri.
<b>Híbrida</b>
O novo espaço da Pinacoteca "complementa os outros dois edifícios do museu por meio de uma arquitetura permeável e acolhedora, e reflete o espírito de integração social dos programas desenvolvidos pelo museu", reflete Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca, que, no próximo ano, optou por uma programação híbrida que contempla modernos e contemporâneos brasileiros, a arte indígena e a asiática, representada por Haegue Yang, primeira sul-coreana a expor na Pinacoteca.
Ela vai montar uma grande instalação composta de esculturas feitas com persianas industriais que pendem do teto, como móbiles, combinadas a outras obras tridimensionais instaladas sobre o piso. Aos 51 anos, formada em Seul, suas instalações combinam múltiplas ferramentas (eletrônicas, inclusive) para provocar uma sensação de estranhamento no espectador. Dividindo seu tempo entre a Coreia do Sul e a Alemanha, Haegue Yang adota o nomadismo como tema frequente em sua obra.
Entre os brasileiros, a Pinacoteca selecionou alguns dos artistas disputados pelo circuito para suas mostras em 2023. Já em março, a Pina Luz recebe a maior exposição individual do artista indígena Chico da Silva (1910-1985), reunindo obras (muitas inéditas) de coleções públicas e particulares em um recorte que vai de 1943 a 1984. Outro artista indígena contemplado é Denilson Baniwa, que mostra novo trabalho no Octógono, espaço do museu para projetos site-specific.
<b>Mulheres</b>
Na Pina Estação, o ano é das mulheres. Revisitando obras de artistas brasileiros em exposições monográficas, a Pina Estação vai promover uma exposição sobre a carreira de Elisa Bracher, em abril. Ainda no primeiro semestre, no mesmo local, mas no segundo andar, Regina Parra vai ocupar o prédio ao lado da Sala São Paulo.
Voltando ao museu vizinho, a Pina Luz abre no segundo semestre uma retrospectiva da artista argentina Marta Minujín com projetos imersivos em que combina cor, som e movimento. A retrospectiva comemora os 80 anos da artista conceitual que herdou da escola pop o gosto por um cromatismo forte e lisérgico. No fim da ditadura argentina, Marta criou sua obra mais forte, El Partenón de Libros, reprodução do edifício grego que virou símbolo da democracia.
Na Pina Contemporânea estão previstas exposições do brasileiro Antonio Obá (em junho) e da chinesa Cao Fei (em setembro). No final de 2023, Alex Cerveny ocupa o segundo andar da Pina Estação com 23 desenhos e gravuras do acervo da Pinacoteca, apresentados pela primeira vez em conjunto. No quarto andar do mesmo edifício, será realizada uma retrospectiva dos 30 anos de trabalho do artista carioca Jarbas Lopes.