Variedades

Pintor exibe no Rio obras criadas para ilustrar livro póstumo de Lêdo Ivo

“Lêdo Ivo morreu jovem. Ia completar 89 anos”, brinca o pintor Gonçalo Ivo, caçula do poeta alagoano, que morreu em 23 de dezembro de 2012. Os dois, além da mulher e dos dois filhos do artista, estavam em Sevilha, na Espanha, onde passariam o Natal; de lá, seguiriam para o ano novo em Paris, onde Gonçalo está radicado há 17 anos. Naquela tarde do dia 23, eles almoçaram frutos do mar num restaurante indicado por um funcionário do Hotel Afonso XIII, um dos mais luxuosos da cidade. O poeta queria comer “onde gente comum come”. À noite, no quarto do hotel, passou mal e, na madrugada, despediu-se: “Tirem o Leonardo (o neto) do quarto, que vou morrer”. “Morreu de velho”, diz o filho, que não chorou, por ter vivido ao lado dele intensamente os últimos anos.

Aurora, reunião de 31 poemas que refletem sobre a vida e a morte, saiu três meses depois na Espanha, um dos países que mais prestigiam a poesia de Lêdo – o acadêmico da Academia Brasileira de Letras foi traduzido para muitas línguas além do espanhol, incluindo o holandês, o grego e o sueco. Só agora está sendo lançado no País, pela Contra Capa Editora. A edição brasileira sai enriquecida por 35 ilustrações feitas por Gonçalo, sob inspiração da leitura do pai. As obras integram uma mostra que a Gustavo Rebello Arte, galeria que fica no Hotel Copacabana Palace, abre nesta quinta, 26.

Algumas foram feitas especificamente para acompanhar determinados poemas, caso de Aurora, que abre o livro, com versos de otimismo: “Ao romper da aurora/ tudo é epifania/ e minha vida inteira/ em mim vive o instante/ de luz e alegria/ e o indispensável/ vai clarear meu dia”. O fim do livro traz o prenúncio da morte, e a pintura de Gonçalo, que segue as investigações cromáticas iniciadas nos anos 1980, se faz mais melancólica. “É hora da partida/ parto sem levar nada/ no fim da madrugada, na aurora amanhecida”.

“Ele estava muito bem de saúde, viajava sozinho, mas sabia que ia morrer, pela idade”, conta o pintor. “Queria rever Sevilha, a cidade onde havia estado depois da 2.ª Guerra. Na ocasião, uma cigana leu a mão dele e falou: Você vai usar uniforme e ter um filho homem. O uniforme seria o fardão da ABL; o filho, eu”.
Não foi a primeira parceria de pai e filho. Gonçalo também criou para Réquiem, um único e longo poema de um Lêdo devastado com a morte da mulher, Maria Lêda, com quem fora casado por mais de 60 anos. “Na época, não me senti capaz, doía muito em mim. Levei quatro anos para fazer, com ele me cobrando. Com Aurora, me pediu para ser mais rápido”, diz Gonçalo, que se mobiliza para relançar os títulos do pai.

Em breve, sai Relâmpago, escrito pouco depois de Aurora por um poeta ainda mais certo da morte; para 2017, vem a antologia A Imaginária Janela Aberta, publicado no México em 1980. À época, o livro ajudou a fazer de Lêdo um nome importante nos países de língua espanhola.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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