Estadão

Pior atentado da década no Paquistão deixou foi represália por ação policial

O ataque que deixou ao menos 100 mortos em uma mesquita do Paquistão na segunda-feira, 30 – o pior da última década no país – foi uma retaliação às operações da polícia local contra grupos armados islâmicos, informou o chefe da instituição nesta terça-feira 31. O ataque aconteceu em uma mesquita dentro do quartel-general da polícia de Peshawar, capital da província de Khyber Pakhtunkhwa, e foi inicialmente reivindicado pelo Taleban paquistanês, conhecido como Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP).

No momento da explosão, entre 300 a 400 pessoas, em sua maioria agentes das forças de segurança, estavam reunidas na mesquita para as tradicionais orações do meio-dia. O centro religioso ficava em uma área bastante vigiada por concentrar, além da sede da polícia da cidade, outros escritórios importantes do governo como tribunais, residências oficiais e a Assembleia Provincial.

Parte do teto da mesquita e de seus muros ficaram destruídos, e sobreviventes foram resgatados dos escombros. Segundo o último balanço oficial, 100 pessoas morreram e 221 ficaram feridas, a maior parte policiais.

"Estamos na linha de frente e é por isso que fomos atacados", disse à <i>France-Presse</i> Muhammad Ijaz Khan, chefe da polícia de Peshawar, no Noroeste do Paquistão. "O objetivo é nos desmoralizar como força policial", afirmou.

Segundo o chefe da polícia da província de Khyber Pakhtunkhwa, Moazzam Jah Ansari, o ataque foi realizado por um homem-bomba que conseguiu entrar na mesquita carregando entre 10 a 12 quilos de "pequenos explosivos".

A 50 quilômetros da fronteira com o Afeganistão, Peshawar tem sido palco de algumas das piores violências já vistas no Paquistão nos últimos anos. Desde que o Taleban voltou ao poder em Cabul em agosto de 2021, após a retirada das tropas americanas, ataques contra patrulhas e delegacias de polícia e bloqueios de estradas aumentaram significativamente em Peshawar e em áreas tribais ao redor da cidade.

Além do tentáculo do Taleban no Paquistão, alguns ataques foram obra também do EI-K, braço regional do grupo jihadista Estado Islâmico.

<b>Resgate e reivindicação</b>

Nesta terça-feira, corpos ainda eram retirados dos escombros da mesquita. As equipes de resgate usaram câmeras e aparelhos de escuta para tentar localizar os sobreviventes. Dezenas de policiais mortos no ataque já foram enterrados em cerimônias solenes, com caixões enfeitados com a bandeira do Paquistão.

"Fiquei preso sob os escombros com um cadáver em cima de mim por sete horas. Perdi todas as esperanças de sobrevivência", disse Wajahat Ali, um policial de 23 anos que agora está hospitalizado.

Logo após a tragédia na segunda-feira, Omar Mukaram Khorasani – membro do conselho do TTP e líder do Jamaat-ul-Ahrar, um dos braços do grupo terrorista – reivindicou o ataque. Segundo ele, o atentado foi uma retaliação ao assassinato do então líder do Jamaat-ul-Ahrar no Afeganistão, Omar Khalid Khorasani, por agentes de segurança no ano passado.

No entanto, o porta-voz oficial do TTP, Mohammad Khorasani, negou que o atentado tenha sido cometido pelo grupo, alegando que não faz parte da sua política ter mesquitas e outros templos religiosos como alvos. Segundo ele, os envolvidos em atos como esse podem sofrer punições dentro do TTP, sem mencionar diretamente as declarações anteriores de Omar Khorasani.

Desde a sua criação em 2007, o TTP matou dezenas de milhares de civis e forças de segurança no Paquistão. Em 2014, o movimento foi expulso das áreas tribais do país por uma operação militar.

De acordo com um oficial da polícia local, que falou sob condição de anonimato, as autoridades também investigam o possível envolvimento do grupo EI-K, da divisão do TTP Jamaat-ul-Ahrar ou mesmo um ataque coordenado por várias organizações terroristas.

"Muitas vezes, grupos armados como o TTP cometem ataques contra mesquitas sem reivindicar a responsabilidade, porque uma mesquita sunita é considerada um lugar sagrado", afirmou o agente.

Após o ataque, a capital do Paquistão, Islamabad, e o restante do país, sobretudo as regiões na fronteira com o Afeganistão, ficaram em alerta máximo. "Os terroristas querem semear o pânico, atacando aqueles que estão cumprindo seu dever de defender o Paquistão", disse o primeiro-ministro Shehbaz Sharif. (Com agências internacionais).

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