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Pistoleiros apontam fuzis para ônibus de crianças

No Vale do Jamari, em Rondônia, epicentro dos conflitos no campo no Brasil, a pistolagem impõe fuzis AK-45 a ônibus de estudantes. Os guaxebas, como são conhecidos homens contratados para matar e fazer segurança de grileiros, alteraram a rotina de crianças do Assentamento Terra Prometida. No lugar conhecido como Garimpo Bom Futuro, na zona rural de Ariquemes, vivem 190 famílias. Em 1.º de fevereiro, primeiro dia letivo de 2016, motoristas tiveram de voltar com os ônibus vazios à Escola Municipal Padre Ângelo Spadari, localizada a 30 km do acampamento e a uma distância difícil de calcular em relação aos direitos da infância.

Em vez de crianças, os motoristas Petronilho e Lenilson levaram um recado de pais ao diretor da escola, José Roberto da Silva: os filhos só voltariam a estudar se tivessem segurança de que nada aconteceria pelo caminho. Desde o ano passado, pistoleiros ameaçavam os motoristas. Crianças relataram que encapuzados apontavam armas para os ônibus. Com medo dos pistoleiros que aterrorizam o Vale do Jamari com assassinatos, assaltos, destruição de casas e toques de recolher, os pais decidiram trancar os filhos em casa.

O diretor da escola insistiu, mas, no dia seguinte, novamente os ônibus voltaram sem alunos, mas levaram um grupo de pais. No colégio, os pais contaram o pavor que estavam vivendo. O diretor José Roberto fez um relatório com as queixas. O documento registra a situação tensa e que “agora fugiu do controle”.

Foram duas semanas sem que as crianças do Terra Prometida pisassem na sala de aula. Para tentar reverter a situação, a diretoria da escola procurou o Conselho Tutelar de Ariquemes, a Secretaria de Educação do Estado e o Ministério Público. Diretor do colégio há um ano, José Roberto diz que só viu tensão igual no auge da exploração do Garimpo Bom Futuro, que já foi considerado a maior mina de cassiterita do mundo, aberta em 1983. No ano 2000, mais de 4 mil garimpeiros ainda trabalhavam no local. Hoje, a exploração é feita por empresas, com o uso de máquinas.

Quando o Conselho Tutelar buscou ajuda da Polícia Militar para ir até o Terra Prometida, ouviu que os agentes não os acompanhariam porque a região é “muito perigosa”. No relato dos conselheiros, a polícia alertou que jagunços da fazenda tinham “armamento pesado do tipo fuzil AK-45, pistola, metralhadora, colete à prova de bala e rádio de comunicação” e que os conselheiros corriam risco de morte.

Sem segurança, os integrantes do Conselho Tutelar seguiram para o assentamento e encontraram as casas fechadas. Era hora do toque de recolher. Na visita, pegaram o relato da moradora Niete e sua filha Naiara, de quatro anos. Os bandidos passaram na casa dela e mataram o cachorro. “A criança ouviu os tiros. Os pistoleiros encapuzados mostravam as armas para ela.”

A Polícia Civil passou a fazer rondas no caminho das crianças. Responsáveis por assentamentos do Incra, Polícia Federal e Ministério Público Federal não se mexeram. “Aos poucos, alunos começaram a voltar”, diz José Roberto. “Ainda há muito medo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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