Pode ser só uma frase de efeito – Antônio Pitanga gosta de dizer que não pertence ao movimento negro, mas é um negro em movimento. Como tal, apareceu no belo documentário de Erik Rocha, Cinema Novo. O filme de Eryk sobre o movimento do qual seu pai, Glauber, foi figura importante, coloca corpos em movimento na tela, e o de Pitanga, ex-Antônio Sampaio, é dos que mais aparecem. O Cinema Novo queria retratar o Brasil dos excluídos. Negros, sertanejos, pobres de maneira geral.
Tem outro filme, outro documentário, em cartaz e que celebra aquele mesmo corpo em movimento. Pitanga, de Beto Brant e Camila Pitanga, dialoga muito bem com Cinema Novo. E com outro grande documentário – Eu não Sou Seu Negro, de Raoul Peck, como assinalou o próprio Pitanga, em entrevista ao Estado. Daqui a alguns dias, estará começando o 22º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Será a ocasião para que se fale do gênero e, por meio de uma seleção de 82 títulos, o cinéfilo poderá viajar pela cultura de 30 países.
O É Tudo Verdade foi – permanece – um marco na valorização do documentário no País. Mas não será preciso esperar até lá. Estão em cartaz belíssimos documentários. Jovem aos 50, de Sergio Baldassarini Junior, sobre a Jovem Guarda. Argentina, de Carlos Saura, que não é bem um documentário, mas um híbrido, uma experiência estética mesclando canto e dança em torno ao folclore do Noroeste argentino. Na próxima semana, virá Martírio, de Vincent Carelli, sobre os índios caiowás que lutam pela demarcação do seu território. E ainda, até junho, teremos Divinas Divas, de Leandra Leal, sobre as artistas transgêneros que fizeram história no País.
Cada um desses filmes tem sua importância, alguns são melhores que outros – e Pitanga é o melhor de todos. Um grande documentarista brasileiro, Eduardo Coutinho, fez filmes que celebraram a arte do encontro. Mas agora é estimulante ver como novos artistas estão redefinindo essa arte do encontro no cinema e no documentário brasileiros. Pitanga, o filme, viaja por meio de imagens emblemáticas do cinema nacional. Camila é filha de Pitanga, irmã de Rocco Pitanga. Ambos conversam com o pai e Pitanga encontra diretores, atores e atrizes com quem contracenou, Benedita da Silva, seu amor. A beleza dos encontros. Pitanga é uma celebração artística, humana, política. Um dos grandes filmes brasileiros – ponto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.