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Pitty volta à ativa e fala sobre homofobia e machismo

Pitty está de volta. Após ficar um ano longe dos palcos para cuidar da pequena Madalena, fruto de seu relacionamento com o marido e baterista do NX Zero, Daniel Weksler, a cantora baiana de 39 anos lança nesta sexta-feira, dia 4, a primeira música inédita após seu período de licença-maternidade. Na Pele foi gravada em parceria com a cantora Elza Soares e estará disponível em todas as plataformas digitais.

“Cada frase da canção tem a ver com a história da Elza”, disse a vocalista. Em entrevista exclusiva ao jornal “O Estado de S Paulo”, Pitty falou sobre o retorno à música, machismo, homofobia, preconceito, maternidade e o atual momento do rock nacional. “Lidei com as estranhezas de ser uma mulher à frente de uma banda com um som pesado, contrariando o cansado estereótipo de som de menina ou a figura batida da diva. No começo, portanto, eu via muitos olhares desconfiados”, afirmou a cantora. Leia abaixo trechos da conversa.

Em Na Pele, gravada com Elza Soares, você fala sobre empoderamento feminino. Como a letra dessa canção foi escrita?

O empoderamento feminino não é, necessariamente, o único assunto de Na Pele. Essa música fala também sobre o tempo, as vivências e a bagagem que a gente vai juntando e que nos forma. A letra traz essa metáfora da água sendo o tempo, que, ao longo da vida, cava leitos de rio na pele. Quando escrevi a canção, senti que ela não fazia parte do Setevidas, meu último disco de estúdio. Guardei, como faço com algumas composições. Acho que as musicas têm a hora certa de virem à tona.

Como surgiu a ideia de gravá-la com Elza Soares?

Na verdade, foi ela que quis que gravássemos juntas. Fiquei imaginando que essa letra, que é muito densa, tinha de ser entoada por uma voz igualmente densa. Mandei a música para ela. A Elza fez a proposta, o que me deixou muito feliz. Cada frase dessa letra tem a ver com a história da Elza Soares. Fiz essa música para ela, no fim das contas. Eu só não sabia disso naquele momento (risos).

O Brasil ainda é um país machista, homofóbico e preconceituoso?

Houve avanços, sim, principalmente porque existe a internet e as redes sociais que são ferramentas que democratizam a comunicação, para o bem e para o mal. Hoje, é possível se manifestar e fazer barulho a respeito de vários assuntos sem estar necessariamente atrelado a um veículo de mídia tradicional. Temos visto muitas manifestações nesse sentido. Falta irmos mais além no combate das violências, do machismo, da homofobia, na proteção da população mais vulnerável. Tem de ser já, por que quem sofre tem pressa.

O que fazer para tornar a sociedade menos machista?

Conversar, debater, e, principalmente, educar. A desconstrução dessa cultura patriarcal e machista se dará por intermédio da educação, da empatia e da revisão de valores. E, como não pode deixar de ser: lutando. Ninguém abre mão de privilégio sem embate.

Você enfrentou muitas dificuldade em sua vida por ser mulher e vocalista de uma banda de rock?

Enfrentei mais barreiras por ser baiana, no sentido de que era muito difícil abrir espaço ali para fazer a música que eu gosto e queria fazer. Tive que vir tentar a vida fora, um espécie de retirante cultural, mesmo. Lidei com as estranhezas de ser uma mulher à frente de uma banda com som pesado, contrariando o cansado estereótipo de “som de menina”, ou a figura batida da diva. No começo, eu via muitos olhares desconfiados.

A música é machista? O rock é machista?

Os meios, mesmo os artísticos, são espelhos da nossa sociedade. Eles refletem, se não o todo, boa parte disso que a gente presencia todos os dias por aí. Mas eu tenho visto na música um oásis para as liberdades individuais e respeito. Há um movimento contemporâneo que envolve representatividade, que celebra as diferenças. No rap, no rock e na música indie, por exemplo, tem muita gente massa com discurso inspirador.

Como foi sua volta aos palcos depois do período de licença-maternidade? Há previsão para o próximo disco de estúdio?

Foi intenso, um período de reflexão e reencontro comigo mesma. Voltei aos palcos no João Rock, que é um festival gigantesco em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Ainda estou me reorganizando e abrindo brechas para escrever. Quando sentir que tenho um disco, gravo.

Da última vez que conversamos, em 2014, você disse que o rock estava despertando de um período sonolento e que ainda viria muita coisa boa nos anos seguintes. Como você analisa isso hoje em dia?

As coisas estão muito rápidas, cada vez mais efêmeras, com essa história de mídia digital, streaming, etc. Cada dia tem dez links de coisas diferentes, discos, clipes, singles. O lance é estabelecer um filtro, porque não dá para ver tudo, né? Ainda estou esperando ser arrebatada por um disco de rock.

O que mudou na sua vida desde que sua filha, Madalena, veio ao mundo em agosto de 2016?

Mudou tudo. A rotina, as prioridades, o sentimento. Os medos, a descoberta do amor incondicional por alguém.

Como enxerga o atual cenário político do País?

Com muita tristeza. Surpresa não, porque lá em 2013 já se sentia que estávamos indo para um caminho perigoso de polarização e desrespeito à democracia.

Você é uma das juradas do programa Pop Star, da Globo. Neste ano, também passou a integrar o time do Saia Justa. Para você, como é fazer televisão? É algo que quer levar daqui para frente?

O Popstar eu fiz só um dia, a cada programa é uma bancada diferente. O Saia Justa eu faço ao vivo toda quarta-feira e é uma experiência incrível. Estou amando fazer televisão. É uma outra forma de me comunicar não só com meu público, mas com um monte de gente diferente. Sim, quero continuar e quem sabe até me aprofundar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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