Pressionado, o presidente da SportAccord, Marcus Vizer, pediu desculpas nesta quarta-feira pela forma com que criticou o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o presidente deste, Thomas Bach. O dirigente, entretanto, manteve as acusações e disse ser livre para emitir opinião.
“Eu sinceramente lamento pela forma e pelo momento que escolhi para me expressar, mas em relação ao conteúdo, manifestei minha voz e minha opinião. Pelo resto, sinto muito, mas acho que todas as pessoas do mundo do esporte são livres para expressar suas opiniões, terem visões”, disse Vizer.
A SportAccord reúne sob seu guarda-chuva as federações internacionais de modalidade, sejam elas olímpicas ou não, e diversos outros atores do esporte internacional, como os organizadores dos Jogos Pan-Americanos e Asiáticos e sindicatos de trabalhadores ligados ao esporte.
Na segunda-feira, em Sochi (Rússia), na abertura da 14.ª Assembleia Geral da entidade, Vizer, reeleito em dezembro para mais quatro anos, fez duras críticas ao COI, acusando o órgão de ser pouco transparente. Ele ainda sugeriu que os Jogos Mundiais, evento de maior repercussão da SportAccord, se transformem em um concorrente dos Jogos Olímpicos, reunindo os Mundiais das modalidades olímpicas.
Vizer foi rapidamente taxado de “ditador”, porque não expressava a opinião dos membros da entidade. Na terça, a Associação de Federações Olímpicas de Verão (ASOIF, na sigla em inglês) anunciou que suspendeu as suas relações com a SportAccord.
Como Presidente da Federação Internacional de Judô (IJF), entretanto, Vizer teve direito à fala na abertura do congresso anual da ASOIF, nesta quarta, também em Sochi. Após o pedido de desculpas, se retirou do evento. Exceção à IJF, todos os outros 27 membros da ASOIF assinaram carta de repúdio às declarações dele.
“Eu expressei a realidade do esporte hoje. Eu não ligo se algumas pessoas têm medo de dizer aquilo. Nós não precisamos de cardeais no esporte. Nós não precisamos de papa”, disse Vizer, terça à noite, em entrevista a um canal de TV europeu.
A opinião dele, entretanto, não encontrou ressonância em nenhum dirigente relevante do esporte. Pelo contrário. “Nós acreditamos que o COI é uma máquina forte. É uma perda de tempo entrar em uma guerra, na nossa opinião, do nosso lado, ou tentar desestabilizar o sistema”, disse Francesco Ricci Bitti, presidente da ASOIF e da Federação Internacional de Tênis.
“Nós temos que respeitar Bach, nós temos que respeitar o COI. Devemos desculpas ao presidente do COI”, opinou Hassan Moustafa, vice da ASOIF e presidente da Federação Internacional de Handebol.
“Nessa época do ano passado, eu expressei algumas opiniões sobre a reorganização dos Jogos Olímpicos de Verão e Inverno e o senhor Vizer me repudiou publicamente e disse que eu deveria ser mais diplomático e acabou. Agora, estou pessoalmente surpreso que ele não tomou ele mesmo esses cuidados”, argumentou Brian Cookson, da Federação Internacional de Ciclismo.
Em 2014, o Cookson sugeriu que esportes indoor, como o ciclismo de pista e o judô, fossem disputados nas Olimpíadas de Inverno. À época, Vizer respondeu com ironia, elogiando o “humor britânico” do dirigente do ciclismo. E complementou: “estou sempre disponível a ajudá-lo (a Cookson) a entender melhor o movimento olímpico e a evitar declarações à imprensa quando não temos nada a comunicar”.