O empresário Pedro Magno Salomão Dias se tornou peça-chave na investigação da Polícia Federal sobre fraudes em contratos para compra de kits de robótica em 42 cidades de Alagoas. Policiais passaram meses à paisana o monitorando e descobriram uma intensa rotina de saques fracionados em espécie em agências bancárias e entregas presenciais em Brasília e em Maceió.
Preso na Operação Hefesto, ele prestou depoimento e confessou que atuava como operador financeiro de Luciano Cavalcante, ex-assessor parlamentar do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O advogado André Callegari, que defende Cavalcante, afirmou que seu cliente conhece "superficialmente" Pedro Magno.
O <b>Estadão</b> teve acesso ao vídeo do depoimento, prestado no dia 1.º de junho e divulgado antes pelo portal Metrópoles.
<b> Comissão </b>
Magno narrou à PF que recebia uma "comissão", que variava de 5% a 7%, para "disponibilizar" as contas de três empresas registradas no nome dele para movimentações de dinheiro. A versão é de que as contas recebiam transferências de outros CNPJs e os valores eram devolvidos por dois caminhos: pagamento de contas variadas, como condomínio, cartão de crédito e parcelas de carro, e saques para entregas em espécie. Ele alegou que tudo era tratado com Cavalcante por WhatsApp.
"O Luciano me pedia para pagar contas e eram contas diversas. Eram Pix para pessoas que eu não tenho ideia. Eu, na minha cabeça, o meu alvo era: Pô, vou me tornar um banco . Um banco é exagero, mas vou me tornar um agente financeiro de pessoas ricas. Era o que eu queria e eu obedecia", disse. "O conhecimento que eu tinha era esse: que ele (Cavalcante) era um cara que prestava serviços e não queria pagar (imposto), usar o CNPJ dele."
Magno afirmou que, no caso de entregas em dinheiro vivo, o intermediário era o motorista Wanderson Ribeiro Josino de Jesus, registrado nas planilhas da contabilidade paralela como "W". A PF fez buscas em um endereço ligado ao motorista e apreendeu um caderno de capa dura azul, aparentemente de contabilidade, com anotações de valores em dinheiro e nomes, inclusive o de Arthur Lira.
<b>Provas anuladas</b>
As suspeitas de envolvimento do presidente da Câmara com os desvios levaram o juiz Roney Raimundo Leão Otílio, da 2.ª Vara Federal de Alagoas, a declinar da competência do caso e remeter os autos para o Supremo Tribunal Federal (STF), que tem atribuição para conduzir investigações sobre autoridades com direito a foro privilegiado na Corte.
Provas do caso foram então anuladas pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo, que considerou que o inquérito não poderia ter iniciado na primeira instância. Ele argumentou que a investigação foi aberta com base em reportagens que citavam Arthur Lira, ou seja, na avaliação do ministro, já era possível identificar que os autos deveriam tramitar na Corte máxima.
Quando as suspeitas vieram a público, Lira afirmou que toda a sua movimentação financeira "tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado federal".
Após o Supremo anular as provas, o presidente da Câmara declarou também que a investigação "tinha como único objetivo me atingir". "Passei dias sendo exposto e injustiçado, mas sempre confiei plenamente no Poder Judiciário, um pilar fundamental na garantia dos direitos do cidadão."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>