Estadão

PL de transporte de ônibus ganha novo parecer, mas mantém pontos de preocupação

Relator do projeto de lei (PL) que mexe com as regras do transporte rodoviário interestadual de passageiros e pode limitar a concorrência no setor, o deputado Hugo Motta (Republicanos -PB) apresentou nesta quarta-feira, 15, seu parecer sobre a matéria. Apesar de manter um artigo que deverá restringir a entrada de novas empresas no mercado, o deputado retirou outras partes polêmicas. De acordo com técnicos ouvidos pela reportagem, o novo texto não deve inviabilizar o segmento de aplicativos de fretamento, conhecidos como "uber de ônibus" – como previa o texto aprovado pelos senadores.

A previsão é de que o texto seja votado ainda nesta semana pela Câmara dos Deputados. O projeto é de origem do Senado, onde foi aprovado no fim do ano passado. Lá, a relatoria foi conduzida pelo senador Acir Gurgacz (PDT-RO), que tem familiares donos de duas empresas de ônibus consolidadas há anos no mercado, a Eucatur e a Solimões, como revelou à época o Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

A expectativa de votação da matéria nos próximos dias mobilizou empresas de fretamento, que são contrárias à proposta e temem o fim de seus negócios caso a Câmara aprove o texto da forma como veio do Senado. Entidades do setor ainda analisam o parecer protocolado por Hugo Motta para se manifestarem.

O Broadcast Político apurou que as mudanças feitas no relatório foram bem recebidas dentro do Ministério da Infraestrutura, que, no passado, atuou contra o projeto de lei do Senado.

Motta retirou, por exemplo, a exigência de inclusão, dentro do processo de autorização de operação, de itinerário, horários e frequências mínimas de cada linha ofertada pelas empresas. O relator também excluiu do texto a previsão de que as multas aplicadas às companhias seriam de, no máximo, R$ 3 mil. A lei atual define que essas multas podem chegar a R$ 10 milhões.

Outro ponto polêmico aprovado no Senado resultaria na suspensão de todas as autorizações de linhas concedidas desde 30 de outubro de 2019 – data que marca o processo de abertura do setor. Motta argumentou, por sua vez, que a proposta não seria constitucional, afetaria o princípio da isonomia e ainda geraria uma intervenção no trabalho da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Já sobre os serviços de fretamento, o relator fez um ajuste no texto. O projeto dos senadores vedava a "intermediação" e a venda individual de bilhete de passagens por essas empresas, o que inviabilizaria esse modelo de negócios. No relatório da Câmara, Motta retirou a menção à intermediação, deixando a proibição de venda de bilhetes. De acordo com técnicos ouvidos pela reportagem, por não mencionar o veto à intermediação, a proposta deve permitir que as companhias continuem intermediando a venda de passagens por meio de plataformas, como é feito atualmente.

<b>Restrição</b>

Um ponto que ainda gera preocupação entre técnicos, no entanto, é a previsão de haver limite para o número de autorizações concedidas no setor em casos de inviabilidade operacional e econômica. A inviabilidade técnica já está prevista nas regras atuais. Para especialistas, a inviabilidade "econômica" é um conceito falho, de difícil cálculo, e que, na prática, vai impor uma barreira à entrada de novas empresas no setor. Com isso, criará uma reserva de mercado.

Outra crítica é sobre a atribuição que o projeto dá ao Executivo no papel de definir os critérios de inviabilidade, uma vez que, originalmente, essa atuação deveria ser da agência reguladora.

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